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robindotelhado
terça-feira, setembro 27, 2005
 
A MÚSICA DOS VITORINOS E A GLANDE DO CARVALHO

As músicas de que os partidos políticos se socorrem em tempos de eleições são como alguns ditados populares. Chatas, repetitivas e com timbre de coisa usada, velhas, empoeiradas.

Acho que é de propósito. Só pode. Ninguém, no seu juízo perfeito, se lembraria de fazer uma conjugação de tambores a ressoar sem parar, pífaros estridentes, cavaquinhos insistentemente dedilhados e violas baixo graves. Muito menos de nos obrigar a ouvir esses sons grotescos depois de filtrados por altifalantes descolorados, utilizados em 333 campanhas eleitorais, desde o 25 de Abril.

Um horror. Pode parecer ridículo, mas a primeira coisa que me vem à cabeça quando me cruzo com um desses carros campanha, seja qual for o partido que promove, é o Alentejo.
A sério. Imagino um monte alentejano, um velhote apoiado numa bengala de pau, uma boina preta a tapar o sítio onde já houve cabelo, uma foice e um martelo aos seus pés. Um caminho de terra batida a descrever duas ou três curvas suaves até à casa e um Renault 5 verde, com dois altifalantes a berrar uma cantilena que ninguém consegue descortinar. Nem o velhinho, surdo que nem um penedo e mais preocupado com uma não sei das quantas reforma agrária.

Poupem-nos. Não nos lixem os tímpanos. A malta não curte esses sons. Os Janitas, ao Faustos, os Vitorinos e os Paulo de Carvalho (O GAJO FEZ O HINO DO PSD, sabiam?) já eram. Fazem parte do passado recente de que ninguém se lembra nem quer lembrar.

Acreditem no que vos digo. Ninguém se quer ver de bigode farfalhudo, com calças à boca de sino, empoleirado numa Diane com os cabelos compridos ao vento, com os pensamentos num gajo da América latina que fez uma viagem de moto a derreter a massa do papá, bateu com a cornadura no chão, desmaiou e acordou a dizer que queria ser comunista.

Os que foram assim, há muito que acenderam a lareira com aqueles álbuns de fotografia antigos, prova de um passado embriagado pelo idealismo.

Finito. Prometo votar no primeiro partido que passe DE-PHAZZ nos carros de campanha, mesmo que defendam que a criação de postos de trabalho deve ser feita fora do concelho, em Mozelos, Oliveira de Frades ou Vouzela. Mais nada.
Ok, estava a exagerar, mas se quiseram desenvolver o concelho e puserem DE-PHAZZ voto mesmo! Palavra de Robin.

PS: Este post é dedicado ao Afonso Irrisório, para alimentar a sua última cruzada, a guerra à bolota, que, para os que não sabem, é a glande do carvalho, da azinheira e do sobreiro que é um aquénio com cúpula.
 
quinta-feira, setembro 15, 2005
 
FASHION ADDICT

Não sei se já ouviram a expressão alguma vez.
Aqui pelo burgo não é muito usual. Não é que não seja conhecida. É simplesmente ignorada, por parecer um tanto ou quanto sofisticada. A verdade é só uma, nós, o povo das montanhas, não gostamos de utilizar estas expressões meias abichanadas.

Fashion addict. Ao ouvir estas duas palavras a primeira coisa que me ocorre é uma daquelas gajas empertigadas, com cintos reluzentes da Dolce & Gabbana, umas calças de ganga da Versace e o belo do sapato alto. Tudo com uma fragância quase indelével do Magie Noire da Lancôme.

A malta por aqui não embarca nestes esquemas marados. Umas calcinhas de ganga da Salsa ou da D-Sample ligeiramente coçadas e está a andar de mota. Uma sprayzada de CK One na pescoçeira e está feito. É este o espírito das montanhas. Nada de grandes tangas.

É certo que somos gente simples, mas não somos nenhuns pimbas. Não gostamos de Ágata nem do Marco Paulo.
Infelizmente há quem nos queira dar esse rumo.

Ciente da capacidade de influenciar através das imagens – aquela tanga de que uma imagem vale mais do que mil palavras – o nosso Tó, partindo do pressuposto que éramos uma bimbalhada serrana, resolveu tirar do seu armário a mais feia das suas gravatas e apinocar-se com ela numa pose de estado em todos os cartazes que espalhou pela vilória. Aquela gravata às pintas é a coisa mais horrível que já vi, mesmo mais feia do que as pernas da Elisabeth Taylor aos 123 anos.

Estive três dias sem comer, senti náuseas durante cinco e agradeci ao inventor do Ultra-Levure ter nascido, senão ainda hoje estava com diarreia. Que coisa feia. Ainda por cima está com ela em todos os cartazes. Será que não tem mais nenhuma?

Não pode ser. O Antonês ainda lho consigo perdoar. A inacção constante nem tanto, mas isso resolvo com um voto em qualquer das listas adversárias. Agora o mau gosto, quero dizer, a total falta de gosto é que já não.

Não quero que o Tó se transforme num fashion addict. Havia de ser uma coisa esperta, mas nem oito nem oitenta.
Temos de ajudar o homem. Nestas alturas de desorientação, temos, como diz um amigo meu, de ser uns para os outros.
Ofereço-me para falar com o Padre Encarnação e fazer reverter a colecta da missa de Domingo para a compra de uma gravata para o nosso Tó. Uma coisa discreta, com umas riscas quaisquer, azuis e creme, para dar um ar sport, por exemplo. Não acham que seria uma prenda para a noite das eleições quando ele souber do desaire? Pode ser que assim não fique tão triste...
 
quarta-feira, setembro 14, 2005
 
O BRONZEADO DO TÓ E A AGULHETA DO IMPERADOR

Poucas são as coisas que me dão mais prazer do que estar na praia. Deitar-me sob um sol radioso, sem sombra, a destilar com temperaturas de 40º. Sentir as gotículas de suor a percorrerem todas as curvas faciais e a alojarem-se logo a seguir à maçã de Adão. Espraiar-me a areia a escaldar, esmagando os grãos de cor clara, encovando-me junto com eles. Penetrar as ondas que se enrolam sobre os nossos corpos.
Como diria um amigo meu da Linha, «curto bués a praia».
Até há uns dias, a minha felicidade estava virgem, impoluta. Após aturadas comparações havia concluído não ter nenhum ponto em comum, ainda que ténue, com o nosso Tó Carlos. Éramos uma espécie de água e azeite, de preto e branco. Diferentes, mais diferentes, não existia.
Este meu estado inebriado havia, no entanto, chegado ao fim. Afinal tínhamos algo em comum: o gosto pelo sol.
Fiquei de rastos. Como é que iria conseguir partilhar a estrela mãe com o Tó Carlos? Pensar que as mesmas ondas haveriam de nos banhar aos dois, num constante movimento de vaivém...
Acontece que não havia nada a fazer. O Tó gostava mesmo do sol, a ponto de, durante todo o período em que os fogos assolaram as nossas serras, ter preferido ficar a apanhá-lo. Decerto aproveitando-se da tecnologia dos telemóveis de última geração, ia recebendo as imagens das áreas ardidas desde S. Martinho até Sul, passando pelas imediações do Trigal, roçando e atingindo mesmo o S. Macário.
O bronze era o importante. Afinal, o Tó Carlos não é bombeiro, muito embora seja uma «pessoa humana» com os valorosos soldados da paz. Assim, se não vinha apagar os fogos, valia mais gozar as férias até ao fim. E foi o que aconteceu.
Quando já tudo estava ardido, voltou à sua terra com um bronze de invejar. Eu, pelo menos, fiquei cheio de inveja, não tenho vergonha de o admitir.
Agora vou-me pôr a adivinhar, mas penso que não errarei muito se disser que o Imperador da freguesia das carvalhas também ficou um tanto ou quanto roído. Sim, sim, porque enquanto o Tó Carlos se banhava com horas e horas de sol, o Adrianus Magnificus andava de agulheta na mão a evitar que as labaredas queimassem e conspurcassem os seus domínios. Não saía de lá. Ele eram telefonemas para a Protecção Civil, para os bombeiros, para a Portucel. Simplesmente imparável.

Quem não gostou de o ver de agulheta na mão foi o Tó Carlos.
Primeiro porque o Imperador conseguiu impedir o fogo nas «suas » terras, o que o Tó não conseguiu.
Segundo porque, devido às muitas horas passadas junto ao fogo, o Adrianus acabou por ficar com um bronze melhor que o seu.
Diz-se que após a comparação do bronzeado entre os eternos rivais foi ordenada a construção de um solário junto ao bar do sogro. Agora estão lá sempre os dois enfiados a ver quem se «queima mais».
Eu é que me fico por aqui, antes que me queimem a mim. Porra, afinal as eleições estão aí e eu quero manter o tacho no balneário...
 
S. Pedro do Sul, Viseu

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