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robindotelhado
quarta-feira, fevereiro 11, 2004
 
NOVOS EMPREGOS CAMARÁRIOS - OS ALFAIATES

A catástofre instalou-se nas caldas do concelho.
Entupido para além do limite do aceitável com toda a espécie de porcarias, o Vouguinha viu o seu caudal subir de modo brusco e inesperado, inundando toda a área adjacente numa extensão de cem metros em cada margem.
Como resultado, os cerca de quatrocentos e trinta e dois funcionários das caldas, perdão, quatrocentos e trinta e três funcionários - o senador/administrador esteve ao serviço durante mais de cinco minutos seguidos - ficaram a sem ter que fazer nos próximos cinco meses, pois este é o tempo previsto para a recuperação integral do edifício.

Reunido de emrgência e após o toque da sirene dos bombeiros se não ter calado durante quase o dia todo, o senado ponderou a imediata declaração do estado de emergência. «Que vamos fazer com essa malta toda?», questionava-se o hair on the air. «Vamos ter de levar com eles», declarava o pêlo na venta. «Tenham calma, vamos encontrar uma solução», dizia o apaziguador futuro-desempregado. «É pô-los a trabalhar na Escola de Carvalhais que há lá muita pedra para partir», sugeria o senador-imperador.

Entretanto, num inesperado rasgo de intelegência que se lhe desconhecia, o bivalve, empunhando um telemóvel em cada mão, ambos ligados em alta voz, gritou: «Heureka! Já sei, vamos dar um telemóvel a cada um e lá se hão de entreter a falar uns com os outros».

O senador-administrador-finaceiro-nas-muitas-horas-vagas, aborrecido com semelhante disparate, virando-se para a disparatada Vieira, vociferou o seguinte: «Vê lá se te calas. Por causa do teu fétiche com telemóveis tenho a Vodafone sempre atrás de mim para pagar as contas. Vamos ter de dar o edifício do Senado em quadragésima hipoteca para as liquidar».

Acabado de chegar da sua quinta de Vai-e-Ões e alheio a tudo o que se passava, facto que constituiu surpresa entre os seus pares, o meu primo Henriquinho, após uns minutos de sensata meditação, avançou com a seguinte solução: «Criemos novas profissões temporárias para os quatrocentos e trinta e três funcionários caldistas. Distribuímos grupos de quarenta ou cinquenta por cada uma e está o problema resolvido».

Manifestamente embevecido com o seu delfim, o futuro-desempregado, sorrindo, disse ao primo, na presença de todos: «Vinde a meus braços, meu filho. Vais ser promovido a assessor chefe».
Passado este momento de ternura e orgulho, criou-se uma mesa redonda, agora já na presença do chefe de todos os munícipes, que ainda se apresentava combalido, aparentando ainda não estar totalmente ciurado da gravatite aguda que o tinha atacado.

«Cata-pêlos», sugeriu o senador que os tem por tudo quanto é lado, segundo os mais recentes relatos do lobbY feminino .
«Polícias municipais anti-blogues», antecipou-se o senador-imperador, desde que fiquem na minha dependência directa.
«Cata-beatas», disse o futuro-desempregado, que as planta por tudo quanto é sítio.
«Arranca-bostas», continuou o evangelista de serviço, dando uma vigoroso murro sobre o seu evangelho segundo ACF.
«Limpa-chaminés», avançou o meu prmi Henriquinho, pois andam aí jotinhas com a cabeça atolhada de merda, a fazer fé nos comentários apostos nos blogues.
«Jogadores da bola», disse o sempre soridente a-gravatado.
«Alfaiates», sugeriu o arrebatador bivalve.

Fez-se um silêncio mórbido à volta da mesa redonda.
Sem saber o que responder ou comentar, trocaram olhares denotativos da incompreensão quanto à sugestão bivalviana.

Sem medo de mostrar que não havia percebido a ponta de um corno quanto à ideia dos alfaiates, o futuro-desempregado, pediu explicações à concha, que de imediato se abriu, revelando anos de aprendizagem profundamente entranhada.

Ó colegas, só um bando de alfaiates nos pode salvar da adivinhada ruína.
Sentamo-los pelos bancos do nosso jardim e mandamo-los fazer bolsos com quatro metros de comprimento.

Ainda tá com a ressacar da festa de Beirós, segredou o senador Hair on the air.

«Eu ouvi», respondeu prontamente o bivalve, «mas vale mais uma ressaca em Beirós do que uma bezana no meio das couves do mercado».

Conclui o teu raciocínio bivalviano, interrompeu o senador futuro-desempregado.

«...da-se», desbafou a Vieira por de entre uma chamada de telemóvel - a quinquagésima quarta da manhã - «com bolsos desse tamanho vamos conseguir arrumar lá a massa toda que vamos receber dos seguros por causa das inundações».

Posta à votação, foi esta proposta assinada por unanimidade dos presentes.

Fica a advertência. Se os virem em posição de mira-aviões, com as mãos nos bolsos, não se iludam. Não é a tomateira que coçam. É a massa que contam.

Boa bivalve. É de gajos com espírito prático como tu que nós precisamos.

Saudações bolsistas.
 
 
O MIRA-AVIÕES

SPS, não o partido de índole vitoriana «Somos Por Si«, mas S. Pedro do Sul, vila onde tudo se passa e tudo acontece, sempre se caracterizou por possuir uma variada fauna.

Sempre teve e tem ainda hoje criaturas para todos os gostos: presidentes a-profissioinados, vereadores filósofos, assessores dirigentes de futebol, padres vermelhões, professores garrafões, engenheiros engarrafados, funcionários a contrato. Enfim, um sem número de parasitas grotescos sem utilidade nenhuma que não seja deglutirem o erário público.

No entanto, como boa terra que também o é, teve, de quando em vez, personagens dignas de figurarem como número um da mais digna caderneta de cromos.

É de um desses cromos que vos vou hoje falar.
Muitos dos atentos leitores bloguistas não se lembrarão, por força da idade, de um visionário que por cá passou há mais de vinte, vinte e cinco anos.
Nessa altura, como só me deslocava a SPS aos fins-de-semana, nunca soube o que fazia. Provavelmente nada. Melhor dizendo, certamente tudo, ainda que aparentasse o contrário.
Nunca soube o seu nome. Apenas sei que tinha a alcunha do Mira-aviões. Julgo que as más-língua cá da terra, que as há em grande número, o terão assim denominado por andar sempre com as mãos atrás das costas com a cabeça virada para o céu, com um olhar fixo no infinito.

Sei hoje, com experiência de vida que fui adquirindo ao longo de quarenta e seis anos, sete dos quais como trabalhador no balneário, o que equivale ao dobro em idade civil, que não eram aviões o que o Mira-aviões fitava.
Sei, hoje, que a sua preocupação se centrava na ausência de pássaros que rasgassem o horizonte serrano.
Sei, hoje, o quão apoquentado era o seu estado de alma por sentir a falta de tão belos animais.
Sei, hoje, que era um visionário.

Com mais de vinte anos de antecedência, o Mira-aviões conserguiu prever que o senado iria ser tomado de assalto por um bando de desempregados de tacho na mão; sabia que esses ex-futuro-desempregados jamais abandonariam a panela asssim tomada; sabia que, muito embora não tivessem nenhuma capacidade de gestão da masa que é de todos nós, a banca lá estaria de pernas abertas para colmatar toda e qualquer incapacidade orçamental.

Por tudo isto, com a já referida antecedência, o Mira-aviões passou a ter um sonho recorrente: S. Pedro do Sul seria invadido por um bando de aves, num cenácio tipicamente Hitchcokiano. Plagiando George Orwell, seria um verdadeiro « Triunfo dos Pássaros».

Desde a primeira vez que teve tal sonho, o nosso cromo não mais deixou de esprerar pacientemente pela vinda dos nossos salvadores, por isso passando longas horas a visionar o azul do céu, expectante para o seu sonho ganhasse forma e o desígnio se concretizasse.

Como todos os que sonham, o Mira-aviões foi, na falta de um sinal de concretização do almejado sonho, perdendo a esperança e, passados alguns anos, partiu, não mais voltando à nossa vilória.

Há uns tempos, também num sonho, encontrei-o e fui bafejado por uma surpreendente confissão.
O Mira-aviões, envergando os seus habituais calções caqui, segredou-me a razão do seu sonho recorrente. Advertiu-me que não o moviam razões estéticas ou poéticas. Não era o chilrear dos pássaros que pretendia. Não era o esvoaçar por de entre as árvores que desejava.

Era a dejecção das aves que ele tanto queria ver concretizada.
Devo dizer que fiquei aterrado com a sua confissão. Pensei que um mais nobre fim, de resto, condicente com a sua postura física, de pensador profícuo, estivesse subjacente. Ainda lhe avancei-lhe que dejectos já lá tínhamos que chegasse. Não eram precisos mais.

Serenamente, afiançou-me, com segurança e firmeza, que eram dejectos o que mais queria.
Não em qualquer telhado da vila. Certamente não no meu, para que não me tornasse no Robin do R/C, mas no daquele edifício renascido do incêndio, protado e sobranceiro ao jardim.

Baralhado, perguntei-lhe se era da Câmara que falava. Disse-me que sim. Pensando tratar-se de um erro de localização, ainda o informei que era aí que se encontava a nata da nossa classe política, os democraticamente eleitos pelo nosso povo.

Farto da minha conversa eivada de um je ne sais quois de cunbersa da merda, disse-me, parafraseando o Cineasta César Monteiro: «estou-me a cagar para o povo». «O povo é quem mais ordenha», acrescentou. Para além do mais, continuou, «quais eram as alternativas: um bando liderado por um DLD (desempregado de longa duração) ou por um puto sem carta»? Mal ou bem, concluiu, «o primeiro, por ser encartado, sempre os havieria de conduzir a algul lado, nem que fosse a um beco sem saída».

Rendi-me perante tal argumentação. Atrevi-me, embora antevesse a resposta, porque raio queria eles os pássaros no telhado do dito edifício.

Recuperando a serenidade com que sempre o imaginei, respondeu-me numa voz calma: «quero que os pássaros defequem pelos respectivos anûs toda a matéria orgânica não assimilada pelo organismo e que, por sua vez, esta atinja os píncaros dos tachos que protegem o couro cabeludo de todos quantos entrarem no edifício mencionado».
Num tom mais vigoroso e impressivo, «quero que a merda que jorra pelas bordas do cu dos pássaros lhe atinja o cocuruto da cabeça e, mercê da sua acidez, se entranhe na que têm já no seu interior».

Com tamanha violência verbal, despertei do meu sonho abruptamente, sem tempo para me despedir do saudoso Mira-aviões.
Apercebi-me que dormia no hall do Senado há mais de três horas.
Eram 12 horas e catorze minutos e aguardava pelo meu interlocutor, com quem tinha marcada uma reunião para as 9 da matina.
Passaram-se quinze minutos e, aborrecido, fui-me embora para o trabalho, pois tinha de entrar no turno da tarde.
Durante todo o caminho, esperei que as preces do Mira-aviões e, agora, também minhas, fossem ouvidas e SPS fosse invadido por um bando de aves com uma diarreia de último grau. Desejei que se amontoassem nos telhados do cândido edifício e, de lá, abrissem as torneiras das suas entranhas, cobrindo as faltas de respeito para com os munícipes.


À chegada às caldas, um cinta policial formada por corpulentos barrigudos trajados de verde azeitona impedia o acesso ao balneário.
Ao invés de empunharem um cacete para afastar as pessoas, reparei que toidos empunhavam o indicador em frente do nariz. Chium, diziam, façam pouco barulho que o senador adormeceu dentro do carro. Teve um reunião no mercado de Viseu que durou até às tantas e ficou-se pelo carro. Respeitem que trabalha em prol e todos vós, segredava um mais novo.
Espreitei e ainda vi uns cabelos em pé do senador dedicado à causa pública, que se quedavam por cima do volante do seu carro.

Pela primeira vez na vida amaldicoei o Mira-aviões pela sua precipitação contagiante.
Afinal, ainda havia que se dedicasse a todos nós.

Respeitosas saudações, é o que vos desjo dos píncaros dos céus, montado no dorso da Fernão Capelo, a mais excelsa gaivota que pairou sobre o céu de SPS.
 
sábado, fevereiro 07, 2004
 
Povo de S. Pedro!
Desculpem, se começo assim ainda pensam que vos vou pregar com o evangelho segundo ACF.
Não. Não vos vou sujeitar a tamanho martírio, nem gastar os pixels dos vossos computadores com semelhante perda de tempo. Se o tiverem em excesso, o que não acontece comigo, pois que a venda de senhas no balneário não mo permite - só hoje vendi umas 5 - aconselho vivamente V. Exªs a lerem o Notícias.

Porque é fim-de-semana, altura propícia a pensamentos e reflexões, lembrei-me de vos presentear com uma adaptação de um poema que penso ser do conhecimento de todos.

Decerto estarão recordados de uma senhora com nome de fruta, penso que bago, uva, ou coisa que o valha, num dia em que, levada pela emoção de ver o marido a subir na vida e a comoção de ver a conta bancária a aumentar em igual medida, leu um poema do Alexandre O'Neill.

Se ainda não perceberam do que falo, o título vai, certamente, fazer luz: «Sigamos o Cherne».

A grande dificuldade com que me deparei quando resolvi proceder à adaptação foi a escolha do peixe, já que cherne não podia ser, pois o nosso Vouguinha, coitadinho, não os tem.

Pior, pior foi quando me lembrei que o nosso riacho já nem peixes tem. A única coisa viva que por lá navega será, porventura, um cagalhão movido por alguma ténia sobredesenvolvida.

Invadido pelo saudosismo, talvez pela demolição iminente daquele marco histório do bairro da Ponte, resolvi homenagear as enguias, que à sua beira passavam.

Bicho interessante, é um peixe teleósteo, de carne delicada, da família dos murenídeos, de corpo serpentiforme, barbatanas reduzidas, pele viscosa e escorrgadia, praticamente desprovida de escamas.

Em sentido figurado, enguia é uma pessoa ardilosa que se esquiva quando a conversa cheira mal. É por isso que se diz, parece uma enguia, serpenteia este, finta aquele, escorrega deste, desliza daquele, sempre com o fito de nunca ser por ninguém apanhado, mantendo-se sempre no activo à custa do seu carácter viscoso.

Tenho a sorte de não conhecer ninguém assim. Temos a sorte dos nossos destinos autárquicos não ter ninguém assim a comandar. Já pensaram o que era termos alguém viscoso e escorregadio a governar a nossa Sintra?

Sem mais delongas, brindo-vos, pois, com a nossa enguia. Sigamo-la!

Sigamos a enguia, minha Amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, da enguia um beijo,
Senão com amor, com alegria...

Em cada um de nós circula a enguia,
Quase sempre mentida e olvidada.
Em água silenciosa de passado
Circula a enguia: traída
Peixe reclacado...

Sigamos, pois, a enguia, antes que venha,
Já morta, boiar ao lume da água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido a enguia a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...

Façam o que entenderem.
Na parte que toca ao vosso amigo Robin, da enguia nada quero, nem beijos, nem que circule perto de mim, quanto mais dentro!

Em homenagem ao muito bem sucedido blog do bufinho Blue Curaçao, mais de mil visitantes é obra, TARUZ, suas enguias!
Hei de vos comer com vinagre, num belo escabeche, pois é a única forma de vos engolir sem sentir as vossas espinhas a trespassar-me a traqueia.

Saudações enguienses!
 
quinta-feira, fevereiro 05, 2004
 
Olá amiguinhos!
Ando preocupado. Não com os comentários que pululam no blogue do bufinho, que me divertem, apesar da brejeirice de alguns, mas com o estado do nível de desemprego que assola o nosso jardim à beira mar plantado, que atribuo ao facilitismo no acesso a determinadas profissões e à dualidade de critérios.

Porque vos sei leitores atentos dos meus devaneios, decidi compartilhar connvosco um episódio familiar. Diz respeito ao meu primo Henrique, de Chaves, por quem, não obstante o relato que vos vou contar, tenho muita estima, amizade e consideração.

Quis a genética que este meu primo fosse curto de perna desde a nascença. Por causa desta sua fisionomia, a alcoveirice local, motivada também pela afeição que por ele sentiam, cedo o denominaram de «Henriquinho».

Depois de uma infância quase apagada, conseguiu, por mérito próprio, diga-se, encontrar um trabalho feito à sua medida: contador. ´
Como o próprio nome indica e o meu dicionário diz, contador é a pessoa encarregada de fazer a contagem de alguma coisa.

Era esta a penosa tarefa de que o meu primo Henriquinho sempre se incumbiu e foi incumbido. Porém, não era qualquer coisa que se dignava a contar. O pai, senhor de um afamado estabelecimento comercial, desde sempre o treinou para contar o dinheiro que todos os dias entrava na caixa.

Esta sua experiência havia de determinar o início da sua vida profissional, pois que, com a experiência assim adquirida, dificuldades não teve em encontrar trabalho numa associação
de agicultores existente em Chaves, mas tarde transformada em banco.

No entanto, a rotina inerente a essa tarefa, cedo cansou o meu primo, que se apressou em encontrar um qualquer fait divers que lhe permitisse alternar com a sua profissão nine to five.

Por falta de opções numa terra em que nada mudava desde há muito tempor e pouca coisa se passva, deciciu ingressar num partido político. Não me recordo agora do nome, mas tenho uma vaga ideia que o seu fim último era proteger os limpa-chaminés, pelo menos era esse o seu símbolo: três chaminés,

Sem nada que fazer após o monótono trabalho, o Henriquinho passou a inteirar-se dos problemas políticos da simpática cidade: se a tampa de esgoto da rua principal estava desnivelada, se o vereador da oposição usava chapéu de abas largas, se a equipa de futebol local estava bem posicionada no campeonato. Enfim, um manencial de tarefas da maior importância, que sempre abraçou com toda a garra e afinco.

Anos mais tarde, quando as peles dos seus polegares e indicadores já estavam gastas pelo uso de tantas notas contadas, o Henriquinho resolveu tentar a sua sorte na carreira política.

A partir desse dia passou a inteirar-se, não dos assuntos importantes, mas dos assuntos muito importantes da sua cidade: qual a marca dos cueiros do ex-presidente da câmara, qual o pequeno-almoço do filho do encarregado, qual a pressão de pneus do carro-de-mão do jardineiro, etc.

No final de cada dia, entregava um relatório pormenorizado das actividades por si presenciadas.

Como recompensa de um trabalho tão árduo e meritório, assim que o partido pró limpa-chaminés alcançou a cadeira do poder, recebeu um convite.

O Henriquinho nem queria acreditar, após anos de penoso trabalho, havia conseguido fazer-se notar. Recebido pelo primeiro senador, foi brindado com a seguinte oferta: um cargo de assessor.

Receoso pelo que isso poderia implicar, o Henriquinho ainda pensou, pois haviam-no informado que daí em diante o seu trabalho muito importante iria duplicar: qual a marca dos cueiros do ex-presidente da câmara e do presidente da Junta da freguesia mais populosa, qual o pequeno-almoço do filho do encarregado e da neta do vigésimo engenheiro, qual a pressão de pneus do carro-de-mão do jardineiro e o número de velas do bloco da DAF de três eixos e por aí fora.

Vacilou na aceitação. Os argutos senadores, não querendo perder o seu valioso contributo, aumentaram a parada ao Henriquinho. Para além da assessoria proposta, avançaram com a quase certa eleição para presidente da UDS, União de Snooker Solidária.

Amante, mas não praticante de desporto algum, aceitou.
Conseguiu a nomeação para assessor.
De contador a assessor, eis o seu trajecto.

A esta hora do campeonato, de certeza que se estão a interrogar do porquê deste relato failiar. Mas k caralho tem isto a ver com o facilitismo no acesso a determinadas profissões?

Nada. No caso do Henriquinho de Chaves, nada. A sua ascensão a assessor nada teve a ver com simpatias e militâncias no partido pró-chaminés. Não.

O Henriquinho chegou onde chegou por mérito próprio e como recompensa do seu exemplar trabalho.

Apenas me lembrei de falar no seu testemunho por ser um exemplo para todos nós. Forte, preserverante e persistente, o Henriquinho passou de contador a assessor.

É um exemplo que todos devemos seguir, mesmo que esteja numa ponta do país.

Viva o Henriquinho.

Priminho, daqui te envio as minhas saudações champedrenses, com mágoa por não haver aqui ninguém com o teu mérito. Aqui são só panelas, fdx.
 
segunda-feira, fevereiro 02, 2004
 
Pelo menos a geração grunge haverá de se lembrar daquela cançao escrita pelo auto-intitulado poeta Curt Colbain em que o marmelo desatava a pedir desculpas a toda a gente.

Pois era assim que gostava de começar esta blogada, pedindo desculpas por não ter podido malhado em ninguém este fs.

Não foi o trabalho do balneário que me impediu de satisfazer este meu novo prazer, pois que lá existe gente - em abundância - para o fazer.

A verdade é que passei o fs preso devido à Judite.

Estava eu a entrar no Valsaevários com a minha pasta, aquela que uso para transportar a Odisseia do Camarada Homero, quando fui interpelado por uma senhora que se disse chamar Judite.

Pôs-me a mão no ombro e com uma voz grossa, aos engulhos, cheguei mesmo a temer que me vomitasse todo, mandou-me acompanhá-la.
Como tinha a consciência tão tranquila como a do nosso presidente quando, por falta de verba, se viu forçado a pôr no olho da rua o pessoal contratado, segui-a. Sempre à distância, por o seu hálito ser insuportável de tão podre.

Entretanto, ia-lhe perguntando: «D. Judite, diga-me o que se passa, o que foi que fiz?».
Só quando nos abeirámos da sua viatura se dignou dirigir-me palavra.
Eis senão quando dei fé de quem era a mão invisível que a comandava.
Levando a mão à franja que caía sobre a sua testa sobredimensionada, apercebi-me que tinha colado no meio desta um pêlo púbico. Disse-me apenas: «é por causa do Robin».

A fonte dos meus problemas estava agora identificada. O senador amante da fruta não havia perdoado a minha capacidade de observação e tinha posto a Judite no meu encalço.
Comecei a ver a minha vida a andar para trás. O que seria do meu povo de Baiões? Como iriam ser as Pousadas sem a minha presença? Como ficariam todos aqueles que tinham depositado tanta fé na minha pessoa, desde os tempos em que ainda borrava a cueca?

Apercebendo-se do pânico que me envolvia, a D.ª Judite compadeceu-se e traquilizou-me dizendo que a acompanhasse até a sua residência, onde falaríamos com mais calma sobre o sucedido. Fui metendo conversa sobre as águas termais, pensando que estas teriam o mesmo efeito na nossa conversa que têm nas crostas existentes por entre os dedos dos pés.

Depois de trezentas e cinquenta e quatro curvas chegámos a Viseu. Quando o meu ritmo cardíaco já se começava a recompor, a D. Judite toma a direcção de Figueiró. Vi as luzes do Alcazar à minha frente e o carro a abrandar e pensei tratar-se do meu fim.

A cabala começava a ganhar forma. O sendador da fruta e o Dr. Kings iam fianlamente vingar-se das minhas graçolas inócuas. Comecei a imaginar-me na pista de strip com a puta de Vilar em cima de mim. Toda a gente a beter palmas e os pêras lá do sítio a soprarem-me pêlos púbicos com sabor a gin tónico para cima. Era demasiada humilhação para o que havia feito: nada.

Súbita e inesperadamente, a D. Judite inverteu a marcha, sem que ninguém do interior daquele Night Club se tivesse apercebido, decerto por extasiada ocupação. Voltei a cair em mim.
Uns minutos depois, poucos, vi-me dentro de uma casa rodeada por muros altos com um lago defronte, onde um cisne negro olhava fixamente para mim.

Conduzido para a cave, sempre ladeado por dois assessores, quero dizer, seguranças, a Judite, nessa altura já tínhamos ganho alguma confiança, confidenciou-me que me ia ser dada uma segunda oportunidade. Se conseguisse provar a veracidade dos episódios relatados nos blogues, não só seria liberto, como ganharia uma viagem à República Dominicana a expensas da Câmara Municipal de S. Pedro do Sul e garantiriam-me a publicação de todos os meus textos num livro através da editora do Meu Pipi.

Fiquei em êxtase. A viagem estava no papo e já começava a imaginar a capa do livro. A minha cara reflectida nos jactos de hidromassagem do balneário com o Evangelho segundo ACF no fundo. Era perfeito. Ia ser um best-seller. Finalmente iria poder fazer o que mais gostava - blogar - e fugir ao que mais detestava - trabalhar para o município.

Passadas algumas horas, pois aproveitei para pormenorizar os meus relatos e fazer uns novos, a Judite estava de boca aberta. Apressou-se a pedir-me desculpas pela vergonhosa detenção a que me tinha sujeito. Agora, sabia-o, via verdade em tudo quanto havia escrito.

Aceitei as suas desculpas, que me pareceram sinceras, e ofereci-lhe, em troca, uma escova dos dentes, que ela usou de imediato para esfregar os ditos e para descolar o pêlo púbico que ainda se mantinha irredutivelmente colado no meio da testa.

Voltei a Baiões pelo meu pé, como sempre fiz e continuarei a fazer, e, cansado, deitei-me, só tendo acordado para vos relatar o sucedido.

Espero que me compreendam e não me levem a mal.

Qual governador Arnaldo, I'll be back!!!

Robin, o mais novo amigo da Judite.
 
S. Pedro do Sul, Viseu

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