Olá amiguinhos!
Ando preocupado. Não com os comentários que pululam no blogue do bufinho, que me divertem, apesar da brejeirice de alguns, mas com o estado do nível de desemprego que assola o nosso jardim à beira mar plantado, que atribuo ao facilitismo no acesso a determinadas profissões e à dualidade de critérios.
Porque vos sei leitores atentos dos meus devaneios, decidi compartilhar connvosco um episódio familiar. Diz respeito ao meu primo Henrique, de Chaves, por quem, não obstante o relato que vos vou contar, tenho muita estima, amizade e consideração.
Quis a genética que este meu primo fosse curto de perna desde a nascença. Por causa desta sua fisionomia, a alcoveirice local, motivada também pela afeição que por ele sentiam, cedo o denominaram de «Henriquinho».
Depois de uma infância quase apagada, conseguiu, por mérito próprio, diga-se, encontrar um trabalho feito à sua medida:
contador. ´
Como o próprio nome indica e o meu dicionário diz, contador é a pessoa encarregada de fazer a contagem de alguma coisa.
Era esta a penosa tarefa de que o meu primo Henriquinho sempre se incumbiu e foi incumbido. Porém, não era qualquer coisa que se dignava a contar. O pai, senhor de um afamado estabelecimento comercial, desde sempre o treinou para contar o dinheiro que todos os dias entrava na caixa.
Esta sua experiência havia de determinar o início da sua vida profissional, pois que, com a experiência assim adquirida, dificuldades não teve em encontrar trabalho numa associação
de agicultores existente em Chaves, mas tarde transformada em banco.
No entanto, a rotina inerente a essa tarefa, cedo cansou o meu primo, que se apressou em encontrar um qualquer fait divers que lhe permitisse alternar com a sua profissão nine to five.
Por falta de opções numa terra em que nada mudava desde há muito tempor e pouca coisa se passva, deciciu ingressar num partido político. Não me recordo agora do nome, mas tenho uma vaga ideia que o seu fim último era proteger os limpa-chaminés, pelo menos era esse o seu símbolo: três chaminés,
Sem nada que fazer após o monótono trabalho, o Henriquinho passou a inteirar-se dos problemas políticos da simpática cidade: se a tampa de esgoto da rua principal estava desnivelada, se o vereador da oposição usava chapéu de abas largas, se a equipa de futebol local estava bem posicionada no campeonato. Enfim, um manencial de tarefas da maior importância, que sempre abraçou com toda a garra e afinco.
Anos mais tarde, quando as peles dos seus polegares e indicadores já estavam gastas pelo uso de tantas notas contadas, o Henriquinho resolveu tentar a sua sorte na carreira política.
A partir desse dia passou a inteirar-se, não dos assuntos importantes, mas dos assuntos muito importantes da sua cidade: qual a marca dos cueiros do ex-presidente da câmara, qual o pequeno-almoço do filho do encarregado, qual a pressão de pneus do carro-de-mão do jardineiro, etc.
No final de cada dia, entregava um relatório pormenorizado das actividades por si presenciadas.
Como recompensa de um trabalho tão árduo e meritório, assim que o partido pró limpa-chaminés alcançou a cadeira do poder, recebeu um convite.
O Henriquinho nem queria acreditar, após anos de penoso trabalho, havia conseguido fazer-se notar. Recebido pelo primeiro senador, foi brindado com a seguinte oferta: um cargo de
assessor.
Receoso pelo que isso poderia implicar, o Henriquinho ainda pensou, pois haviam-no informado que daí em diante o seu trabalho muito importante iria duplicar: qual a marca dos cueiros do ex-presidente da câmara e do presidente da Junta da freguesia mais populosa, qual o pequeno-almoço do filho do encarregado e da neta do vigésimo engenheiro, qual a pressão de pneus do carro-de-mão do jardineiro e o número de velas do bloco da DAF de três eixos e por aí fora.
Vacilou na aceitação. Os argutos senadores, não querendo perder o seu valioso contributo, aumentaram a parada ao Henriquinho. Para além da assessoria proposta, avançaram com a quase certa eleição para presidente da UDS, União de Snooker Solidária.
Amante, mas não praticante de desporto algum, aceitou.
Conseguiu a nomeação para assessor.
De contador a assessor, eis o seu trajecto.
A esta hora do campeonato, de certeza que se estão a interrogar do porquê deste relato failiar. Mas k caralho tem isto a ver com o facilitismo no acesso a determinadas profissões?
Nada. No caso do Henriquinho de Chaves, nada. A sua ascensão a assessor nada teve a ver com simpatias e militâncias no partido pró-chaminés. Não.
O Henriquinho chegou onde chegou por mérito próprio e como recompensa do seu exemplar trabalho.
Apenas me lembrei de falar no seu testemunho por ser um exemplo para todos nós. Forte, preserverante e persistente, o Henriquinho passou de contador a assessor.
É um exemplo que todos devemos seguir, mesmo que esteja numa ponta do país.
Viva o Henriquinho.
Priminho, daqui te envio as minhas saudações champedrenses, com mágoa por não haver aqui ninguém com o teu mérito. Aqui são só panelas, fdx.