Pêra:s.f.
(Do lat. vulgar
pira, de pirum), fruto da pereira, oblongo, mais volumoso numa das extremidades, de polpa consistente e sumarenta.
Como diz o Rui Veloso, aquele nortenho sulista com sotaque do tipo nem sou carne nem peixe, «o prometido é devido». Cá estou eu a recorrer ao Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa.
Sosseguem, não vou falar de fruta, tão pouco de culinária. Nem do que sei falo, quanto mais do que não sei.
Não é da pêra fruta que pretendo reflectir. Quero antes perceber como alguém se pode ter lembrado de associar um fruto tão apetitoso, tão consistente e sumarento, como nos diz o significado, aos pêlos que algumas almas deixam crescer na venta. A associação do fruto aos pelos é asquerosa, é como mel com fel.
Nunca me debrucei muito sobre os estudos de Freud, mas tenho quase a certeza que terá estudado os espécimes que ostentam essa penugem na ponta do queixo.
Está, com quase toda a certeza, relacionado com sexo, ou melhor, com o excesso dele.
Só pode. Ninguém no seu perfeito juízo, sexualmente falando, se exporia ao ponto de andar com uma espécie de pêlos púbicos à volta da boca.
É coisa que me dá vómitos. Ainda há pouco tempo, quando passeava pelo nosso fórum, me cruzei com um ser destes.
De mãos atrás das costas, lá seguia ele, a passo lento, envolto em conjecturas filosóficas, pelo menos com ar disso. Dava gosto. O seu aspecto sereno, exalava acalmia. Por momentos, imaginei-me ao lado dele a discutir as bases do sistema democrático ou o princípio da participação.
Eis senão quando, no preciso momento em que com ele me cruzei, mesmo antes de me preparar para fazer a vénia devida, posto que de pessoa importante se tratava, talvez um senador, resolve levar o seu dedo médio à dita pêra, escarafunchando-a em círculos.
Interpretei o gesto como se me quisesse dizer: não sou apenas um senador pensante, sou também um filósofo sexualmente activo. Quem cair morre, não interessa quem, não sou esquisito. Pequena, grande, gorda magra... Ostento estes pêlos para que ninguém pense sequer o contrário.
Enojou-me. Estragou-me o almoço.
Ia comer a última importação «champedrense» - a francesinha do Antónios - e comecei a imaginar os pêlos púbicos do senador a boiarem no meio do molho avermelhado, ficando colados, de seguida nas bordas do prato. Que visão! Que asco!
Não sei porque não se dispõe o cherne a determinar que os eleitos locais não podem ter pêlo na venta, aliás, à semelhança do que sucede com o próprio e o seu amigo direito, o Paulinho das Feiras.
Só concederia uma excepção. Poderiam ter pêlos púbicos à volta da boca os senadores - desculpem, mas gosto mais deste termo - todos os que no exercício das suas funções controlassem as hormonas, deixando assim de tentar engatar as moçoilas que por lá poisassem, os que produzissem, tal como as pêras fruta, algum sumo e fossem consistentes.
Bem, se assim fosse, ficávamos na mesma. Lá teria o senador que ir à Barbearia Jardim cortar a pêra, sob pena de, não o fazendo, ir filosofar para outras bandas.
Saudações champedrenses.