ANDANÇAS
Primeiro, o significado.
Andante: «que não tem domicílio certo e vagueia de um sítio para o outro » aventureiro, errante, vagabundo», in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea.
Segundo, a introdução.
Apesar de vivermos em S. Pedro do SUL, há muito que já nos apercebemos que os nossos governantes perderam o
NORTE.
Será por não terem dinheiro para fazer mais e melhor? Não o gastassem a alimentar os filhos, sobrinhos, enteados e afilhados que comem o erário público todos os meses sem nada produzir em troca.
Será pelas inatas incapacidades de gestão de quase todos eles? Será que quem os elegeu desconhecia a inexistência de curriculum por parte deles? Desconheceriam que eram quase todos político-dependentes, ou seja, sem tachos morreriam à fome ou viveriam de esmolas?
Será por andarem desavindos uns com os outros? Sim, ou ainda não se aperceberam das duas facções que se confrontam todos os dias nos corredores da CM? De um lado os pró-Adrianus, do outro os contra-Adrianus.
O tema para este post tem a ver, por um lado, com o vocábulo «andante», mais propriamente com as «Andanças», por outro com a tentativa de explicar a sua existência, o que nos conduz à última explicação para a perda do norte.
Terceiro, as extrapolações.
SPS é, há já algum tempo, diria mesmo desde sempre, um concelho que vive de, por e para as Termas. Afinal, é a água que patrocina os devaneios e disparates que o executivo decide levar avante.
Assumindo esta verdade inquestionável, os detentores da cadeira do poder têm vindo sucessivamente a apostar no turismo termal. Bem ou mal – eu entendo mais mal que bem – têm gasto rios de dinheiro em infra-estruturas, equipamentos, formação, etc..
Tentarem transformar as nossas Termas numas Baden-Baden ou Aix-les-Thermes, pondo os preços ao nível destas já é opção política questionável, diria mesmo, irresponsável.
Certo, certo é que sempre que se fala na nossa vilória nos chega uma imagem de um turismo sério e responsável que resulta num claro proveito para o concelho, mercê dos proveitos que cá ficam.
Assumindo que ninguém questiona este facto na generalidade, há uma dúvida que me assola a mente: num concelho com turismo termal sério e responsável, repito, como foi possível transformar a Carvalhais do Adrianus num pardieiro de andantes? Qual a lógica?
Compreendo que se pretenda a diversidade de turismo. Defendo mesmo um turismo serrano em acumulação com o termal. Afinal, há que tirar proveito das auto-estradas construídas pelo Vitorino Sampedrense para por lá conduzir os incautos alfacinhas às tascas da Pena e Manhouce para comprarem vinho morangueiro a 20,00 € por garrafa, dizendo-lhes que é rústico.
Mas, serão os andantes turismo? Serão rústicos? Poder-se-ão considerar proveitosos para o concelho? No lo creo.
A única explicação que encontro para semelhante desastre é um pisão do imperador Adrianus, apostado em dar cabo dos calcanhares e canelas dos seus comparsas. Embora ache piada às dores que eles devem sentir, basta ver como andam contorcidos, qual ogres verdes de raiva, devo dizer-lhe, imperador Adrianus, que os pisões têm limites, mesmo em Carvalhais, terra da justiça da enxada.
Quarto, os factos.
É um facto que, com o aproximar dessas criaturas que dão pelos nomes de andantes, me ponho a milhas de distância.
Estou neste momento à frente do computador que tenho instalado na minha suite do Blue Nuit de Nice, para onde me vão enviando fotos da fauna que tem vindo a invadir o concelho.
A esta distância, espero, não corro o risco de ver a minha penugem ser atingida por piolhos descendentes das rastas do Bob Marley, que por certo lá os haverá.
O que pode levar gente que reputo de inteligente a misturar-se com esses adoradores do Che, que usam cuecas com a foto deste estampada no sítio do recto?
Como é possível respirar o mesmo ar de gente que se veste com calças com padrões igual aos dos panos de cozinha das nossas avós?
Os incautos que pagam cerca de 80,00 € para assistir a tão degradante espectáculo não recearão ser atingidos por um pedaço de ranho que possa eventualmente sair dos 5 buracos que essas criaturas têm no nariz devido aos piercings que teima em espetar em todo e qualquer bocado de pele? Sim, ao que consta, também nas partes baixas os têm. É por isso que se esfregam com cuidado nessa zona do corpo, não vãos os piercings seguir juntos com a esponja e arrastar qualquer parte pendente.
Será que o irritante comboio turístico que nos atrasa todos os dias tem prevista alguma deslocação de velhinhas termais às andanças? Coitadas, não morrem do mal, morrerão decerto da cura das termas, se esta vier a incluir uma visita às andanças.
E a música, meu Deus!? Não lembra ao diabo. Todos agarrados uns aos outros, como num comuna, ao som de concertinas e gaitas. É arrepiante.
Parecem possuídos por uma divindade maligna, absortos, alheados de tudo e todos, escanzelados.
Dançam, dançam, dançam... até não mais poder, arrastando-se de seguida para as tendas não arejadas, partilhadas por rafeiros farfalhudos e fedorentos.
No dia seguinte, a mesma coisa, só o disco muda. As concertinas e gaitas vêem-se substituídos por acordeãos, tambores e adufes, que tocam, tocam, sem parar. Só as roupas dos andantes não mudam. Dizem que é para manter o ar popular.
E os vegetarianos que por lá existem? Que abuso! Virem para a terra da vitela de Lafões e do cabrito comer ervas, qual ruminantes. Enfartam-se de courgetes, cenouras, ervilhas e outras coisas verdes e pregam para os vizinhos das mesas anexas o sofrimento dos animais mortos para comida. Nem quero imaginar a cor das fezes desta gente, embora conceba ser uma mescla de verde escarro com amarelo peido.
Porque não fazem nessa altura uma matança do porco? Enfiavam no pescoço do dito um faca de metro e meio, trespassando-lhe a carótida com o gume, de modo a que jorrasse sangue durante três meios dias. Abriam-no de seguida em duas partes simétricas, rachando-lhes meia dúzia de costelas, para que visse o branco dos ossos salientes no meio da rosa carne. De seguida, encher-se-iam dezenas de morcelas, que se comeriam avidamente no sector vegetariano. Filmar-se-ia toda a matança e demais actos subsequentes. Posteriormente, passar-se-ia o filme em todo o recinto, para que fosse avistado por todos os andantes para onde quer que olhassem.
Sim, deixo a sugestão, no programa do próximo ano, que já percebi que ninguém os tira mais daqui para fora, incluam o atelier do Porco Guinchão.
Viajo amiúde pelo nosso país e confesso que não sei onde estas criaturas vivem durante o resto do ano. É certo que não visito cavernas e não gosto de caravanismo. Nunca vi tamanha concentração do mesmo género no mesmo sítio. Parecem todos saídos de um gigantesco frasco de Sun Quick com sabor – e cheiro – a andantes. Brahhhhh!
E os meios de transporte que utilizam? Carros velhos, com as rodas presas por arames – desenganem-se os mecânicos, que apelando ao espírito de entreajuda logo aparece uma alma que foi mecânico noutra vida e, munido de fiuo norte logo repara a avaria – dedos esticados para a estrada, culminando com unhas barrentas, porventura do barro utilizado na construção dos próprios pratos, auto-caravanas que tocam insistentemente baladas do Bob Dylan, Joan Baez e outros que tal da Flower Generation.
Estou seriamente a pensar em durante o evento, convencer os Ramstein a dar um concerto no paçal. Pode ser que o som os espante para outras bandas, talvez para a aldeia da Pena, onde facilmente os enterraríamos para todo o sempre, por lá ficando a procriar mais andantes, na imensa paz e amor de Deus Nosso Senhor, ou deuses para os politeístas.
Quinto, a reflexão.
O que leva a CM a apoiar um evento deste género? Não deixam um vintém na terra, não a promovem, antes a denigrem.
Qual o motivo que estará por detrás do apoio da Igreja aos andantes? Verão nos barbudos de cabelos compridos uma ténue semelhança com o rosto de Jesus Cristo ou pensarão que ainda é possível evangelizar os andantes e trazê-los de volta ao bom caminho, o que quer que isso seja?
É certo que a organização dá pelo nome de Pé de Chumbo, mas será que ainda ninguém reflectiu dos motivos de aqui terem aterrado e não mais terem levantado âncora? Ninguém pensou na razão do nome e do apelo que fazem a um metal pesado. Fartos de serem corridos a pontapé por onde passaram, abraçaram a inocência dos sampedreses e criaram raízes. Parece mesmo que vão mudar o nome para Pés-de-âncoras. Contentes deves estar os munícipios que os albergaram a título experimental!
O que me aborrece mais é que os nosso imperadores andam com um sorriso de orelha a orelha. Uns porque julgam ser uma vitória manter um evento como as Andanças no concelho. Outros porque esperam ansiosamente uma visita da PJ acompanhada por cães, seguida por detenções em barda, responsabilizando de seguida o pisão do senador Adrianus. Outros ainda porque vêem nas Andanças um excelente local para conviver de forma fácil e descontraída, sem compromissos, tão a ver, numa de «peace and love». Perderam, definitivamente, o norte.
Antes Nice, ao sul, com as palmeiras a baterem-me indelevelmente na janela sobranceira ao mar, por onde alcanço magotes e magotes de beautiful people, sem piercings, tatuagens, rafeiros e rastas. Vagabundos e errantes ao longe.
Au revoir.