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robindotelhado
quinta-feira, agosto 05, 2004
 
O PARQUE TELHA DO CÉU

Assim, sim! Até que enfim! Finalmente!
Rejubilai, povo sampedrense. Eis que chega ao fim a era de hegemonia da infame freguesia de Carvalhais, burgo do imperador Adrianus, como alguém já o chamou, decerto com um quê de razão.
Já chega de tão exacerbado protagonismo para uma só freguesia, principalmente quando o concelho tem tantas outras. Ela é Andanças. Ela é zona industrial. Ela é Castro da Cárcoda. Ela é Escola Profissional. Ela é a Avicasal. Ela é Perfisa. Ela é Sicornete. Ela é a justiça de Carvalhais. Ela é a porrada do futebol. Enfim, uma panóplia de símbolos incontestáveis de sucesso, ainda que muitos à custa do Projecto Adrianizar, digo, Dinamizar, cujos méritos, diga-se em abono da justiça, são incontestáveis.
Assim continuaria o solitário caminho para o estrelato, não fosse o erro crasso de adrianizarem, digo, dinamizarem o Parque do Pisão, assim chamado pelo constante bate pé do já referido imperador Adrianus no que toca a coisas de Carvalhais.
E não se pense que é um qualquer baté, pois que se for caso disso, os dedões dos superiores apanham que se fartam.

Um bosque verde e fresco, trespassado por um riacho transparente de montanha, ainda vá que não vá, culpa da natureza, diríamos nós a título de desculpa.
Bons acessos para os poder desfrutar, também não era por aí, afinal, quem não se lembra dos estradões rasgados pelo Vitorino Sampedrense por essas serras fora?
Uma piscina plantada no sopé de uma colina, também se admitia, não só porque a água é gelada q. b., mas porque qualquer bimbo que se preze tem uma na extremidade do seu terreno mais próxima da via pública, para que todos a vejam. Vejam-se as que existem na estrada que nos leva à terra dos trapos.
O que já não se podia admitir, jamais, em tempo algum, era a conjugação de todos esses factores e designá-lo como um parque com «P» grande: Parque do Pisão.
Partiu-se a pega do cântaro.
Sorte a nossa, os que habitam na vila, por isso não nos afectar.
Na verdade, não é segredo que circula uma lista negra elaborada pelos opositores do imperador Adrianus que identificam todos quantos seguem em direcção ao P.P. (Parque do Pisão) e que, por sua vez, impede quaisquer aspirações à admissão aos quadros da Câmara Municipal aos que lá figurem.
Segundo, a existência do P.P. nunca faria sobressair a inexistência de um parque com «P» grande na sede do concelho. Afinal, quem vive na vila não gosta de se misturar com serranos, mas antes de se deliciar com os sempre atractivos programas termais organizados no denso interior da concha bivalviana.
Terceiro, quem na Vila quer ir a banhos não precisa da piscina da freguesia serrana, pois para tal basta descer até às Termas, com uma prévia passagem pela caixa de esmolas do padre, sempre necessária para custar o preço dos ditos.
Quarto, quem for cristão e não queira roubar o sustento ao pobre do padre – não padre pobre, atente-se – pode sempre deliciar-se com um banho de lama no embelezado Lenteiro do Rio, sim, lama, ou vão-me dizer que a substância castanha que por lá abunda o não é?
Estas razões constituem a prova provada que o pessoal da vila, onde orgulhosamente me incluo, se está positivamente a cagar para o sucesso do P.P. Não acreditam? Perguntem ao antigo senhor, actual doutor e futuro arquitecto onde fica o P.P. e vão ver a resposta. O P.P., dir-vos-á do cimo da sua sapiência e por debaixo dos seus p.p. (pêlos púbicos): não sei onde fica, mas sei onde não fica: em Tondela. Mais nada.
Adiante.
Quem ficou verdadeiramente eriçado com a desfaçatez do reaproveitamento do PP foi o governante da vizinha Rosconhos.
Para quem não sabe, Rosconhos é uma freguesia ponte.
Freguesia ponte porque apenas serve para passagem. Passagem para a freguesia do imperador Adrianus.
Tem ainda a particularidade dos seus habitantes serem uma espécie rara de cogumelos que se plantam à beira das estradas e, preferencialmente, junto aos sempre bem frequentados cafés que por lá existem. Com o tempo, vão criando raízes e entretêm-se a contar os passantes para o P.P..
Tudo estava bem se o número não tivesse aumentado com o chegar das Andanças. Após mais um forte pisão no calcanhar do supra-imperador, que fez com que este deixasse cair o evangelho homónimo, o imperador Adrianus conseguiu convencer os andantes piolhosos a regressarem ao seu burgo. E pronto, foi quanto bastou. Mais um bando de visitantes a frequentarem o P.P..
As Combi da Volkswagen não paravam de passar, assim como os Renault 5 cheios de fartas cabeleiras com rastas sebosas a esvoaçarem pela janela. Matilhas de cães rafeiros eram seguidas pelos seus donos e filhos destes, muitos e igualmente sujos.Não, era demais.
Farto de tamanha humilhação, afinal do seu caderno eleitoral constava a promessa de suplantar a freguesia do lado, algo que, a suceder, lhe permitira alcançar o cargo de imperador, o seu governante iniciou um longo período de reflexão, congeminando um plano infalível contra os seus vizinhos.
Numa clara tentativa de se demarcar do modus operandi do seu vizinho Adrianus, conhecido pelos valentes pisões, o celeste governante decidiu criar um estilo próprio que marcasse a diferença.
Assim, começou a dar cabeçadas sempre que algo não lhe agradava. A primeira que deu foi nas ridículas construções que o imperador se preparava para pôr no limite do seu burgo. E, tão forte que foi, que ainda hoje por lá se encontram a máquinas a remover os destroços de tão valente cabeçada. As torres gémeas foram limpas com mais rapidez.
A segunda deu-a quando já estava a ficar desesperado e via o seu vizinho a alastrar influência para a terra da laranja.
Eis senão quando, na sequência da terceira cebeçada, esta sem motivo aparente, derrubou um telhado de uma casa em construção, tendo sido atingido por uma telha com tal violência que, pensou, só pode ter vindo do céu.
Com poucos ferimentos, pois que a sua cabeça era dura que nem granito, veio-lhe à lembrança uma ideia peregrina: a construção de um parque.
Resolvida a questão da sua localização, que não poderia deixar de ser bem defronte á estrada de passagem para Carvalhais, onde os seus habitantes se pudessem continuar a deleitar na miragem dos transeuntes, ordenou a mobilização de cinco máquinas giratórias e três retro-escavadoras, bem como a requisição dos mais nobres materiais de construção.
Mandou fossem construídas trezentas mesas em forma de banana, de modo a que pudessem acompanhar a curva onde o parque se implantou. Cinquenta e sete baldes do lixo também na já referida forma curva pelos mesmos motivos. Por erro de cálculo na dimensão da área do parque – parece que a 29ª engenheira do município designada para o efeito considerou a envolvente do P.P. – tiveram de devolver à procedência duzentas e noventa e três mesas e quarenta e oito baldes.
No entanto, como tamanho não é documento – ensinaram-me esta os brasileiros quando lá estive da última vez – o parque de Rosconhos foi um sucesso.
Com honras de estado, a merecer a presença de todos os imperadores do concelho, um em cada ponta – parece que andam desavindos uns com os outros – continua, duas semanas após a inauguração, a ser visitado por carrinhas e camionetas vindas de todo o país. Há mesmo quem lá se desloque para de maravilhar com a análise de uma espécie de silvas, só aí existente, dizem que por causa da influência estática dos habitantes cogumelos.
Questão mais difícil foi a escolha do nome, que teria de ombrear com o P.P..
No momento da inauguração, quando o imperador Air-on-the-air aplaudia a contenção de despesas em tão magnífica obra, o governante de tão importante espaço deu a quarta cabeçada que se lhe conhece numa das 7 mesas do parque e disse: Parque da Telha do Céu, prestando assim sentida homenagem ao momento criador que havia sentido meses antes.
«Parque Telha do Céu, o parque onde se levanta o véu».
 
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S. Pedro do Sul, Viseu

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