A PRETA DE AVEIRO
Na falta de ideias, copiam-se e adaptam-se as dos outros, lá dizem os chineses.
Foi o que fez o Cilva, sinistra personagem que vagueia e assombra qual espírito errante as estreitas ruas da nossa vilória. Apercebendo-se da carga mediática conferida pelos governantes medíocres do nosso jardim à beira mar plantado ao abortivo Women on Waves, começou a magicar sobre as potencialidades de tal negócio.
Grande pensador como é, o Cilva não demorou a concretizar os seus intentos.
Dedo polegar em riste à saída de Branquelos e ala que fae. Aveiro, aí vou eu.
Levando consigo os cêntimos que foi acumulando ao longo dos anos por não comprar jornais – se os havia à borla nos jornais porque os haveria de pagar? – conseguiu comprar uma traineira, que baptizou com o saudoso nome de: «A Preta de Aveiro».
Para que não o acusassem de falta de originalidade, dotou o seu navio, como chamava ao seu pedaço de madeira flutuante, de equipamentos médicos destinados, não à realização de abortos, mas à captura de abortos vivos. Expoente máximo de um espírito aguçado, há muito que se vinha apercebendo dos muitos abortos que viviam e se reproduziam na capital do concelho, local onde desempenhava um árduo trabalho. Se assim era, porque não capturá-los e vendê-los a peso, pensou?
(Ainda) Fiel às doutrinas de esquerda que defendeu e espalhou a sete ventos, não se permitia viver numa comunidade que se pretendia igual, sem distinções de espécie alguma. Havia pois que arrebanhar todas essas criaturas para fora da vila, levando-as para o mar alto, onde seriam atiradas em sacos fechados, com pedras lá dentro.
Para atingir tão nobre fim, pegou na sua «Preta de Aveiro» (barco) e, agora na companhia do seu inseparável amigo Chato da Cilva, fez girar as hélices Vouga acima.
Depois de destruídos muitos quilos de merda com as robustas pás que seguiam o seu barco, despejados pelos esgotos que povoam as margens do Vouguinha, aportaram no Lenteiro do Rio, dando assim razão aos visionários que lá pretendem instalar um «Porto Fluvial». Era a prova provada da utilidade de tão importante equipamento social.
As reacções não tardaram.
Repescando o fervoroso discurso que proferiu em plena Assembleia da República, em altura em que deu provas de inteligência acima da média que possui, ao afastar-se da política rosqueira que por cá se fazia, o futuro Presidente da Câmara logo se insurgiu contra tamanho atentado ao pudor. Que provocação! Que atentado à fé cristã! Abortos, nunca, fossem de que espécie fosse. Capturar os vivos, nem pensar, pois que seria um reconhecimento da sua existência, o que jamais se poderia conceder.
Do outro lado da barricada, com o semblante de cabeça altamente pensadora repousada sobre os seus p.p., o senador D. Juan, sem que se apercebesse do que se tratava, lá ia dizendo: «estou contra o Futuro presidente da Câmara, claro. Que ideia mais estapafúrdia, só vê carvalhas e carvalhas à frente!».
O master imperador, envolvido numa densa nuvem de fumo, não sei se de cigarro se do esforço e tensão que imprimia ao seu pensamento, apressou-se a dizer que só tomaria uma posição oficial depois de criar uma comissão de análise formada por 5 boys. Só depois de ver os prós e contras devidamente esquematizados tomaria uma decisão final.
Farto de tanta espera e com as gargantas secas – afinal já se encontravam em pleno Lenteiro do Rio há quase cinco minutos – o Cilva e o Chato da Cilva, numa atitude de inusitada coragem e iniciativa, fizeram-se à estrada com uma grande rede de pesca, adaptada para apanhar os ditos abortos.
Um de cada lado da rede, que formava um grande «U», começaram numa ponta da vila e acabaram na outra, fazendo uma colheita de vários espécimes de abortos vivos. A velocidade com que os colheram foi de tal ordem que nem tiveram tempo de se aperceber que arrepanhavam nas malhas da estreitas da sua rede.
De novo em cima da «Preta de Aveiro» - e se ele gostava de ser o homem do leme daquela negritude toda – o Cilva fez-se ao mar, descendo todas as curvas do Vouga o mais rápido que podia.
Pegou nos seus despojos e, de uma ó vez, lançou-os ao mar, esperando com paciência o seu afundamento.
Voltou, ciente do cumprimento do seu dever, esperando ser condecorado por tal feito. Finalmente a vilória seria igual, sem abortos que desequilibrassem o fiel da balança. Haveria de ter uma estátua em Branquelos por ter limpo a sua vila de tão vis criaturas.
Amarrou a «Preta de Aveiro» ao cais e dirigiu-se ao Senado para ser condecorado.Entrou e viu pedaços de rede por todos os lados. O Senado estava vazio, não havia vivalma nas redondezas. Atemorizados, o Cilva e o Chato da Silva sentaram-se na faustosa escadaria. Sintonizados um com o outro pensaram, será que...