O MALABARISTA MASCARADO
Recordam-se de, no post interior, ter falado nas associações de ideias que temos tendência para fazer? Aprofundei um pouco mais a ideia e cheguei à conclusão que essas associações podem ser feitas por duas formas: intencionais e não intencionais.
As primeiras – intencionais – não têm muita piada. Não são espontâneas. Implicam uma dose de prognose. De cuidado na análise. Premeditação. Ponderação.
As segundas são muito mais engraçadas. Como não temos consciência delas, têm o condão de nos revelar a maneira mais pura do nosso pensamento, do modo como encaramos a realidade que nos rodeia e, mais importante que tudo, o modo como nos encaramos.
Da-se....., estarão muitos de vós a pensar neste momento, o gajo fez uma parceria com o Silva e estão para aí a falar de uma qualquer filosofia barata. Uma corrente pós moderna o existencialismo Nada disso, o Silva tem um contrato de exclusividade com o Caricas e eu estou apenas a introduzir o tema.
Independentemente de pensarem frequentar as festas da vila, de certeza absoluta que já terão passado os olhos pelo respectivo programa. É impossível não o terem feito, até porque vem na última página do Notícias de Lafões, também conhecido, injustamente, diga-se, por Boletim Municipal. Não é, porém, do programa que vou falar.
Se repararem, no canto inferior esquerdo, surge um pequeno
malabarista com que faz girar cinco bolas em simultâneo.
Diz-me o meu dicionário que malabarista é um executor de jogos malabares, equilibrista. Em sentido figurado, malabarista é aquele que se liberta das dificuldades.
Como vêem, já temos aqui pano para mangas, mas, vamos continuando. Pode ser que fiquemos com tecido para o fato todo.
Escalpelizando o nosso
malabarista, vemos que ele se esconde por detrás de uma
máscara branca, com traços que fazem lembrar as máscaras utilizadas no Carnaval de Veneza.
Verificados os factos, sigamos para a análise.
Não consta do referido programa nenhum tipo de jogos malabaristas, nem o nome de nenhum artista com esse ofício.
O mais parecido que por lá encontro são as marchas populares, que tanto quanto sei implicam umas danças esquisitas, eventualmente comparáveis aos mencionados jogos malabares.
Eventualmente, poderíamos ser tentados a utilizar malabarismos para pôr as bolas da Ágata a girar, mas acho que nem isso. Apesar do cabelo dela estar mais louro de dia para dia, não acredito que as bolas mantenham a consistência de outros tempos.
Então que raio faz lá o malabaristas?!
É aqui que entram as associações de ideias não intencionais e os malabaristas (em sentido figurado) mascarados.
Passo a explicar.
Ninguém duvida das dificuldades financeiras do município. É público que os empréstimos contraídos são muitos. São notórios os elevados custos com pessoal. É evidente que o programa das festas da vila implica um dispêndio exagerado de dinheiro, para não dizer incomportável.
O executante do cartaz, provavelmente algum funcionário de topo, apercebeu-se que, para a sua efectiva concretização, teria de fazer uns jogos malabares para as levar a bom porto. Um tirar daqui e pôr para ali. Um atrasar aqui e adiantar ali. Enfim, um pouquito de engenharia financeira. Automática e imediatamente, surgiu-lhe a figura do malabarista.
No entanto, como a transparência nem sempre impera junto dos mais iluminados espíritos, resolveu esconder-se atrás de uma máscara, julgando ficar assim a coberto dos comentários e dedos apontados ao despesismo exacerbado.
O que me aborrece nem são as malabarices. Infelizmente, já estamos habituados a elas. O que irrita mesmo é que as tentem esconder atrás de uma máscara veneziana. Com tantas que temos e tinham de ir a Itália à cata de uma. Chiça...