PILATOS E A AMUKINA
Os políticos têm, desde tempos imemoriais, um especial fascínio pelas mãos.
Não se sei por questões estéticas, se por motivos de ordem higiénica, mas o certo é que todos eles gostam de ter as mãos limpas.
Dito da forma inversa, não gostam de as sujar.
Esta fixação pelas limpezas acaba por trazer algumas dificuldades, já que, de quando em vez, é necessário sujar as mãos.
Trata-se de uma problema sazonal, que se verifica com maior acuidade de 4 em 4 anos, embora não existam ainda razões para esta periodicidade.
Este dilema – querer manter as mãos limpas e ter de as sujar – há muito que era alvo de acesas discussões por parte dos políticos, que o tentavam solucionar a todo o custo, criando fóruns, realizando debates, fazendo investigações, enfim, um sem número de acções, todas elas goradas.
A nossa vilória, sempre atenta a questões deste nível de importância, não poderia ser excepção e, recentemente, foi criado um departamento denominado GAMAOLI (Gabinete das Mãos Limpas), gerido pelo nosso afável mordomo.
A única condição que o senador mor impôs foi que o mordomo não sujasse as mãos, afinal havia que dar o exemplo desde cima.
Num lampejo fulminante de inteligência, de resto habitual no seio do senado, o mordomo resolveu fazer uma requisição administrativa ao turismo. Segundo informações por ele recolhidas, havia um funcionário que trabalhava nesse serviço e que era inimputável, pelo menos das 10 às 23 horas.
Esta palavra estranha significava, de acordo com as informações que colheu junto do departamento jurídico do senado, que podia chafurdar na merda com as mãos e restantes membros, que ninguém lhe poderia assacar responsabilidades por causa disso.
O pau mandado ideal e, para além do mais, com um vasto cv (curriculum vitae), onde pontificava uma condenação judicial por condução com elevada taxa de alcoolémia, uma fuga às forças policiais e uma rotunda feita no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.
E a escolha ficou feita. Como não há bela sem senão e devido ao facto de 2002 e 2003 terem sido anos em que o vinho apresentou uma elevada graduação, o tal indivíduo logo se apressou a fazer asneira e deixou de querer sujar as mãos. «Se quiserem que as molhe de tinto ainda vá que não vá, afinal o hábito é grande e está enraizado, agora sujá-las com merda, nem pensar. Nem que me ofereçam um garrafão de Penalva. Com dois já discutimos...»
O caso ficou torto e o mordomo viu-se a braços com um problema melindroso, já que o tempo começava a escassear e era preciso começar a fazer sujidade (política).
Até que um dia, fazendo jus às horas passadas à frente da televisão, o nosso mordomo se apercebeu de um novo produto no mercado, de seu nome
AMUKINA.
Para os mais desatentos à publicidade, a
AMUKINA é uma solução bactericida feita a partir de matérias primas de pureza farmacêutica, com garantia de qualidade dada pela Farma-Lepori e que é utilizada para lavar saladas.
Diz-se que as salmonelas esticam o pernil assim que a vêem. A Escherichia foge a sete pés quando sente o seu cheiro. A eficácia indesmentível.
Em face de tamanhas virtudes, o nosso mordomo depressa lançou um concurso de fornecimento de
AMUKINA, apressando-se a rescindir o contrato com a DOVE, até então a marca de sabonete utilizada em todo o edifício.
A solução foi aceite de imediato e logo se deliberou dar mais um louvor ao já acostumado mordomo prestimoso, que o aceitou sem reservas, diga-se.
O inimputável voltou para o turismo, os lucros do café adjacente aumentaram de imediato e em simultâneo com o seu regresso e a gente do senado passou a andar com as mãos mais limpas que as do próprio Pilatos.
Por mim, fiquei todo satisfeito, já que quando quero preparar as minhas saladas vou ao WC e carrego na saboneteira. Os meus tomates, salvo seja, rejubilam de alegria. As minhas alfaces coram de prazer.
Mais uma decisão acertada. Seguir-se-ão outras, como a relva sintética no novo estádio da pedreira, já conhecido como a Casa da Música de S. Pedro, mas este fica para um próximo post.
Saudações
Amukinianas.