SANTOS DA CASA NÃO FAZEM MILGARESSantos da casa não fazem milagres.
Aqui está uma das mais puras verdades sociais (de S. Pedro do Sul).
Não adianta. Podem ser os santos mais dotados, mais capazes, com maior e mais acutilante visão, com maior dedicação que não adianta.
Enquanto existirem espíritos mesquinhos e maledicentes, vão ser sempre rotulados como «gajos com a mania que são espertos», «gajos com a mania que são mais espertos que os outros», «gajos com a mania das grandezas». Enfim, uma panóplia de adjectivos pouco abonatórias dos méritos dos nossos santos.
Já assim é há muito tempo e será nos anos vindouros, pelo menos enquanto uma certa estirpe de genes não for disseminada do sangue sampedrense.
É por isso, Dr. Jaime Gralheiro, que V. Exa. vai irá receber nenhum louvor oficial pelos seus dotes teatrais, pelo menos enquanto for vivo, situação que desejo suceda por muitos e longos anos. Do público já os recebeu e continuará a recebê-los enquanto continuar a escrever as suas peças.
É por isso, António Homem Cardoso, que V. Exa. apenas serve para fotografar a casa real e o jet-set da capital. Se for para fotografar a viga megalómana, vai lá o fotógrafo do Boletim Municipal (NL).
É por isso, Queimadela, que ninguém admira as suas estátuas e toda a gente as critica.
Podia continuar a apresentar uma série de santos da nossa santa terra em circunstâncias idênticas aos referidos em cima, mas não o vou fazer. Prefiro socorrer-me do caso referido em último lugar por ser o mais recente.
Entenderam os nossos senadores encomendar uma estátua para encher a última rotunda do burgo. Na modesta opinião do autor deste blogue nunca o deveriam ter feito. Em bom rigor, não deveriam ter sequer construído a ponte e a rotunda que a antecede.
Isto porque, já me ensinava o meu avô, quem não tem dinheiro não pode ter vícios.
No entanto, fizeram semelhante asneira, está feita. Sairia ainda mais cara demolir essas construções. Quanto à rotunda, umas flores lá plantadas ou uns vasos com umas canas a espreitar tinham tido o efeito de a encher, não era preciso uma estátua, mas também isso entenderam fazer.
Entenderam mal, mas encomendaram a estátua. Está decidido.
Coloca-se então a seguinte questão: já fizemos merda duas vezes – a construção da ponte e da rotunda e a decisão de preencher esta última – a quem vamos então encomendar a estátua?
A quem viver na nossa vilória e se dedique a fazer estátuas. Bem decidido. Ficava muito mais chateado se a tivessem encomendado a um parceiro de Vouzela. Já imaginaram um espicha-sapos a descarregar uma estátua do S. Pedro na ponte? Caía o Carmo e a Trindade...
Por aqui não chegam as críticas que tenho ouvido a lado algum.
Vamos à que tenho ouvido em segundo lugar: o preço da estátua.
Se querem que vos diga, não me preocupa que o preço acordado tenham sido 90.000,00 €, 150.000,00 € ou mesmo 500.000,00 €. A sério que não. Sempre me disseram que uma coisa é o preço acordado e outra completamente diferente é o preço pago.
Quero com isto dizer que a factura da estátua vai ter, muito provavelmente, o de outras tantas entregues no nosso senado: entram nas gavetas e nunca mais de lá saiem. Em resumo, a estátua vai ficar de borla.
Terceira questão, muito mais susceptível de discussão: a estética da estátua.
Esta parte é muito mais gira. Tenho ouvido os comentários mais engraçados sobre a estátua.
Uns, menos avisados e informados, dizem que o S. Pedro ficou muito gordo. Decerto, na semana anterior tinham estado no Ratinho a jogar umas cartas com ele e, nessa altura, tinha uns quilos a menos.
Outros, mais racistas, dizem que o S. Pedro não tinha a tez tão escura. Provavelmente tinham estado com ele antes de ir de férias para Armação de Pêra.
Outros ainda, dizem que existe um certo erro na proporção da parte inferior com a superior da estátua, uma certa falta de harmonia, afirmam, ao mesmo tempo que franzem os olhos e gesticulam como se estivessem a dar instruções para a construção da Capela Sistina.
Poupem-me todos. Vão ler a Bola, ver a Quinta das Celebridades ou outra ocupação brejeira do género destas.
Qualquer obra de arte resulta do espírito criativo do artista que a concebe. É uma interpretação sua do objecto que cria.
Para o nosso santo Queimadela o S. Pedro é assim, ponto final.
Não conheço este nosso santo, assim como o S. Pedro, este nem quero conhecer tão cedo. Digo-vos, porém, que até acho a estátua engraçada.
Aquele ar dirigido aos céus, próprio de quem espera a única coisa que pode salvar o futuro da terra com o mesmo nome: um milagre. Gostei daquela expressão de quem tem fé que, de cima, ainda há-de vir algo que altere o negro futuro que se avizinha e adivinha.
Gostei também da bengala, do seu tamanho. Tenho esperança que, num dia mais ventoso, caia bem no meio da cabeça de alguns dos seus mandantes que por lá passam todos os dias quando vão para casa dos seus irmãos.
Já não gostei das portas por detrás do santo. Deviam estar fechadas. Não que os sampedrenses não mereçam a entrada nos reinos dos céus. Com o que têm aturada já têm bilhete garantido. É só porque, se estivessem fechadas, não se conseguiria ver o LIDL que vai nascer no seu enfiamento.