A MINHA PILINHA É MAIOR QUE A TUA
Como bom pai que sou, na semana passada resolvi levar os meus filhos ao Parque da Verga, situado por debaixo da dita, onde, em tempos idos, se podiam dar umas braçadas e, para os mais descuidados, beber uns pirolitos.
O meu filho mais velho brincava em tronco nu com um amiguinho de ocasião, acabado de conhecer. Apercebi-me em determinada altura que estavam os dois a olhar para os fechos dos respectivos cações e mantinham uma acesa discussão sobre o tamanho das suas pilinhas.
Gritavam a pulmões abertos uma melodia cuja letra era a seguinte: «a minha pilinha é maior que a tua, a minha pilinha é maior que a tua».
Nada de mais. Os 8 anos de idade do meu filho e praticamente os mesmos do seu companheiro permitem esse tipo de despique. Até umas dondocas lisboetas que por lá passeavam os seus caniches ridículos acharam piada.
Na altura não vi mais ninguém nas imediações para além do meu filho, do seu amiguinho e das dondocas. Afinal, era ainda muito cedo e um Domingo de manhã, hora da tomada das hóstias.
Hoje sei que me enganei. Escondido na penumbra da verga estava um espião laranja. Sei-o agora, que revelei as fotografias tiradas nesse dia. São visíveis os contornos da usa proeminente barriga, assim como o do seu nariz de águia.
Também sei que foi ele que se apropriou da brincadeira do meu filho e da cantilena que então entoava. Há gente sem escrúpulos nenhuns. Ignóbeis. Roubar uma ideia a uma criança é pior do que lhe roubar um chupa-chupa.
Digo-vos isto com tristeza, mas com certeza do que afirmo.
Passados uns dias, poucos, vi que, ao lado de todos os cartazes expostos pelo candidato rosa, estavam outros tantos do candidato laranja, colocados posteriormente, em jeito de imitação.
Até aqui tudo bem. Denota falta de imaginação, é certo, mas nada de novo. A colagem às ideias dos outros, ainda que respeitantes a locais de afixação de cartazes, já não espanta ninguém. São assim em quase tudo.
Não foi isto que me irritou. Em bom rigor, até achei alguma piada à localização. Assim os munícipes poderão comparar o bom gosto com a falta dele.
A postura de um, confiante no futuro, com a do outro, de braços cruzados, à espera da passagem do tempo, que se vê marcado no relógio de pulso que usa. É o tempo que o preocupa. Não o que passou, mas o que aí vem, que pode não lhe ser de feição. Pode ser de vacas magras. Isso arrepia-o, como demonstram os vincos da pele da sua cara.
O que me deixou com os pêlos púbicos eriçados foi o tamanho dos cartazes.
Tal como o meu filho fez com o amigo, o laranja quis pôr um cartaz um pouco maior do que o do outro candidato, ao bom estilo da cantilena já referida: «a minha pilinha é maior que a tua, a minha pilinha é maior do que a tua».
Com o devido respeito, ninguém está interessado no tamanho das pilinhas dos candidatos, quero dizer dos cartazes dos candidatos. Estamos, sim, interessados no tamanho das ideias, queremo-las em grande número e boas, com qualidade, que nos tirem do atraso em que estamos. É que até se pode dar o caso da qualidade do candidato ser proporcionalmente inversa ao tamanho dos cartazes.
De facto, como dizia a namorada de um amigo meu, referindo-se à coisinha deste, pequenina, mas trabalhadeira, é o que importa.