UM SUSTO DE MORTE
E ainda há quem critique o modus operandi dos nossos senadores.
Ainda há quem critique a pressão que exercem sobre a carne para canhão, nome dado aos desgraçados arregimentados para integrar listas claramente perdedoras.
Depois de vos transmitir a história que me contaram, vão ver que vivemos no paraíso.
Vão ser forçados a dar razão ao candidato Vieira e, em coro, cantarão: «temos um céu sempre azul, temos S. Pedro do Sul».
Numa freguesia antiga de Portugal, quase tão velha como os trapos e com nome de santa, conhecida pela forte indústria da madeira e, especificamente, por ser a principal abastecedora de cruzes para o Santuário de Fátima, verificou-se, há alguns anos, uma mudança de cor partidária.
Onde dantes se plantavam extensos laranjais, passaram a brotar rosas sem espinhos, impregnadas de doces aromas. Doeu, dizem. Doeu muito.
Os defensores do fruto laranja tentaram, em vão, derrubar o poder da rosa.
Disseram que tinha espinhos, que se haveriam de cravar nas íris das crianças da catequese, Que não estava em sintonia com o senado, que...
Disseram, disseram, falaram, falaram, mas nada concretizaram.
Resultado, alguém resolveu tomar medidas drásticas e assustar todos os seus eleitores.
De forma subtil, porque os tempos da revolução eram já longínquos, escolheram para seu candidato um lúgubre e soturno cangalheiro. Fantástica ideia. Brilhante.
A verdade era só uma, mais cedo ou mais tarde todos seriam por si enterrados. Laranjas, rosas, vermelhos, amarelos, ninguém escaparia.
Daí em diante os eleitores dessa santa freguesia passariam a saber que tinham a morte personificada à sua frente. Era inevitável. Não havia escapadela possível. Uma espécie de votar ou morrer.
A campanha foi brilhante. O preço dos caixões sofreu promoções. Dois pelo preço de um. Um caixão de carvalho pelo preço de um de pinho. Tudo valia e todos colaboravam. A morte era o mote. Estava em todo o lado.
O resultado foi devastador sob o ponto de vista económico.
Apesar de todos a temerem e, por isso, quererem retardá-la, acorreram à compra de todods os artefactos mortuários, assim levando à ruína do mentor do projecto, que por pouco falia.
A ideia tinha sido muito, muito boa, não fosse a derrapagem financeira. Um verdadeiro susto de morte, foi o que foi.