FASHION ADDICT
Não sei se já ouviram a expressão alguma vez.
Aqui pelo burgo não é muito usual. Não é que não seja conhecida. É simplesmente ignorada, por parecer um tanto ou quanto sofisticada. A verdade é só uma, nós, o povo das montanhas, não gostamos de utilizar estas expressões meias abichanadas.
Fashion addict. Ao ouvir estas duas palavras a primeira coisa que me ocorre é uma daquelas gajas empertigadas, com cintos reluzentes da Dolce & Gabbana, umas calças de ganga da Versace e o belo do sapato alto. Tudo com uma fragância quase indelével do Magie Noire da Lancôme.
A malta por aqui não embarca nestes esquemas marados. Umas calcinhas de ganga da Salsa ou da D-Sample ligeiramente coçadas e está a andar de mota. Uma sprayzada de CK One na pescoçeira e está feito. É este o espírito das montanhas. Nada de grandes tangas.
É certo que somos gente simples, mas não somos nenhuns pimbas. Não gostamos de Ágata nem do Marco Paulo.
Infelizmente há quem nos queira dar esse rumo.
Ciente da capacidade de influenciar através das imagens – aquela tanga de que uma imagem vale mais do que mil palavras – o nosso Tó, partindo do pressuposto que éramos uma bimbalhada serrana, resolveu tirar do seu armário a mais feia das suas gravatas e apinocar-se com ela numa pose de estado em todos os cartazes que espalhou pela vilória. Aquela gravata às pintas é a coisa mais horrível que já vi, mesmo mais feia do que as pernas da Elisabeth Taylor aos 123 anos.
Estive três dias sem comer, senti náuseas durante cinco e agradeci ao inventor do Ultra-Levure ter nascido, senão ainda hoje estava com diarreia. Que coisa feia. Ainda por cima está com ela em todos os cartazes. Será que não tem mais nenhuma?
Não pode ser. O Antonês ainda lho consigo perdoar. A inacção constante nem tanto, mas isso resolvo com um voto em qualquer das listas adversárias. Agora o mau gosto, quero dizer, a total falta de gosto é que já não.
Não quero que o Tó se transforme num fashion addict. Havia de ser uma coisa esperta, mas nem oito nem oitenta.
Temos de ajudar o homem. Nestas alturas de desorientação, temos, como diz um amigo meu, de ser uns para os outros.
Ofereço-me para falar com o Padre Encarnação e fazer reverter a colecta da missa de Domingo para a compra de uma gravata para o nosso Tó. Uma coisa discreta, com umas riscas quaisquer, azuis e creme, para dar um ar sport, por exemplo. Não acham que seria uma prenda para a noite das eleições quando ele souber do desaire? Pode ser que assim não fique tão triste...