A MÚSICA DOS VITORINOS E A GLANDE DO CARVALHO
As músicas de que os partidos políticos se socorrem em tempos de eleições são como alguns ditados populares. Chatas, repetitivas e com timbre de coisa usada, velhas, empoeiradas.
Acho que é de propósito. Só pode. Ninguém, no seu juízo perfeito, se lembraria de fazer uma conjugação de tambores a ressoar sem parar, pífaros estridentes, cavaquinhos insistentemente dedilhados e violas baixo graves. Muito menos de nos obrigar a ouvir esses sons grotescos depois de filtrados por altifalantes descolorados, utilizados em 333 campanhas eleitorais, desde o 25 de Abril.
Um horror. Pode parecer ridículo, mas a primeira coisa que me vem à cabeça quando me cruzo com um desses carros campanha, seja qual for o partido que promove, é o Alentejo.
A sério. Imagino um monte alentejano, um velhote apoiado numa bengala de pau, uma boina preta a tapar o sítio onde já houve cabelo, uma foice e um martelo aos seus pés. Um caminho de terra batida a descrever duas ou três curvas suaves até à casa e um Renault 5 verde, com dois altifalantes a berrar uma cantilena que ninguém consegue descortinar. Nem o velhinho, surdo que nem um penedo e mais preocupado com uma não sei das quantas reforma agrária.
Poupem-nos. Não nos lixem os tímpanos. A malta não curte esses sons. Os Janitas, ao Faustos, os Vitorinos e os Paulo de Carvalho (O GAJO FEZ O HINO DO PSD, sabiam?) já eram. Fazem parte do passado recente de que ninguém se lembra nem quer lembrar.
Acreditem no que vos digo. Ninguém se quer ver de bigode farfalhudo, com calças à boca de sino, empoleirado numa Diane com os cabelos compridos ao vento, com os pensamentos num gajo da América latina que fez uma viagem de moto a derreter a massa do papá, bateu com a cornadura no chão, desmaiou e acordou a dizer que queria ser comunista.
Os que foram assim, há muito que acenderam a lareira com aqueles álbuns de fotografia antigos, prova de um passado embriagado pelo idealismo.
Finito. Prometo votar no primeiro partido que passe DE-PHAZZ nos carros de campanha, mesmo que defendam que a criação de postos de trabalho deve ser feita fora do concelho, em Mozelos, Oliveira de Frades ou Vouzela. Mais nada.