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AS RENAS, O PAI NATAL E O PAI NATAL ROBIN
Adoro o Pai Natal.
A figura em si é absolutamente ternurenta. A barriga proeminente, fruto das muitas guloseimas que vai comendo de casa em casa, para ter força para descer e subir as chaminés. A barba branca farta e fofa, que apetece afagar.
Quando miúdo, sonhava 364 dias com o Natal, nem dormia, só de pensar que o podia apanhar em flagrante, a colocar as muitas prendas que queria no(s) meu(s) sapatinho(s). A mera possibilidade de falar com aquele velhinho simpático foi a causa das minhas primeiras directas.
A desilusão foi quando cresci. Não pela descoberta de que o Pai Natal não existia. Disso já eu suspeitava há muito. Na verdade, a minha casa não tinha lareira e o diâmetro do tubo da salamandra da sala não era suficientemente largo. Era uma auto ilusão, que teimava em sustentar para justificar o meu desejo de ter mais e mais prendas.
Só fiquei mesmo estuporado quando me disseram que o pai Natal tinha dispensado as renas e as tinha substituído por um veículo com motor de combustão interna. O desgraçado do pai Natal havia feito um comunicado em que dizia exactamente isso: «veículo com motor de combustão interna». O grande cabrão nem sequer se dignou a dizer que tinha comprado um automóvel. Por forma a humilhar as devotas renas recorreu a esta expressão. Filho da puta.
A partir daí passei a detestar o Pai Natal e desatei a comprar todas as prendas do mundo. Comprei tantas, tantas, tantas que o Pai Natal foi para o desemprego por falta de objecto contratual. Assim como uma espécie de cessação contratual por inutilidade superveniente, percebem?
Pois é, agora o Pai Natal sou eu. O Pai Natal Robin. Fartei-me de divulgar isto por todo o lado. Enviei info-mails para todos os destinos que conhecia. A minha caixa de correio está a abarrotar. Os 80 giga do meu computador mostram-se à beira da ruptura.
Na árdua tarefa de responder a todos os pedidos, deparei com cinco pedidos vindos de um mail de uma entidade pública cujo nome não vou divulgar. Afinal o Pai Natal Robin também está obrigado a manter sigilo profissional.
O primeiro dizia assim:
«Querido Pai Natal Robin,
Não querendo abusar da tua infinita bondade e compaixão, precisava de 1.000.000.000.000.000.000.000,00 € para poder pagar as dívidas aos fornecedores e prestadores dos serviços eleitoralistas que encomendei. Sei que o valor é elevado, mas como trabalharam 24 horas/dia a coisa saiu mais cara. Por outro lado, a banca já não nos concede mais crédito. Ainda tentei hipotecar a minha casa, mas como está em nome do meu irmão, não aceitaram, teria de ser ele a fazê-lo e ele não está para aí virado.
Pedia-te ainda que convencesses o Rui Costa a aceitar um qualquer cargo na nossa administração, como fez o Desleal. É que assim era menos um a chatear.
Já agora um BMW. É que este é o meu último mandato e quero-o acabar em estilo.
Obrigado Pai Natal Robin,
O Primeiro»
Já o segundo que é terceiro escreveu o seguinte:
«Meu Querido Pai Natal Robin, quase Deus omnipresente, quase Criador do céu e da terra,
Sendo um cristão profundo, não vou pedir bens materiais. A altura é propícia à compaixão e fraternidade, não à ignomínia do consumismo.
O que te peço nem sequer é para mim. O meu altruísmo assim o dita. São dois pedidos num só: uma viagem para o segundo que é terceiro e para o quarto que o é, só de ida, para o Butão. Que fiquem lá longos e longos anos. Para que não pensem em voltar, oferece a um uma empresa de construção civil com um saco azul, de onde possa pagar o que quiser, quanto quiser e a quem quiser sem chatear ninguém, ao outro uma destilaria.
Só assim voltaremos a ser uma família unida, uma equipa que trabalhará em prole da minha freguesia, quero dizer das nossas freguesias todas.
Saudações cristãs, meu querido Pai Natal Robin.
O Segundo.
A carta mais estranha das cinco recebidas foi a do terceiro, que é segundo.
Não percebi népia. É certo que foi enviada às 5.30 horas, mas... Dizia assim:
«Robin Papá Natal
Querooo um fritgoiríficuu NO FROST para os meu gabinnnete. Uma graaade de JVBBB de 15 anos euma máquijda de fiinus igualç à dói bar do genro do sogro.
Em termos prufcionais, a minha panela, taxcho e frijideriarra de boltA. Já estava abituado ás aguas estremais e qeroas outra vez. São voas, boas pás dores de cabeça.
Tamvbém kerum BMW. Afinal sou o terceiro que é segundo e tamvvbéM sfru das coztas.
Tenhu ditro.
O tercegundo».
A do quarto não era menos estranha:
«Pai Natal Robin,
Gajas, gajas, gajas, gajas, todas, todas, novas, velhas, brancas, negras, peludas, depiladas, com bigode, sem bigode, de lado, de frente, de trás, de cima, de baixo. Elas que venham, elas que venham. Até as escacho!
Já agora, as renas do Pai Natal, como as dispensou, também elas marcham.
Um kit de zoofilia não é pdir de mais pois não?
Um abração do quarto que há-de ser primeiro».
Por fim, mas não a menos bizarra, a do quinto:
«♫♪♪♪♪♪♫♫♫♫♫.
♪♪♪♫♫♫♫♫!
♫♫♫♫♫♪♪?
♪♫♫».
Pedir não custa, não é? Vou apreciar caso a caso, ponderar. Tendo em consideração o primeiro pedido, vou ver se alguém me faz um factoring ou um leasing porque nem o meu orçamento aguenta tanta massa.
Oh, oh, oh!
Até breve, meus lindos.
O Pai Natal Robin.