Como sabeis – não gosto de utilizar a segunda pessoa do plural, acho muito monárquico, mas apeteceu-me, desculpem, não voltará a acontecer – o umbigo é aquele buraquinho que temos ao fundo da barriga, onde se costuma acumular sujidade. Em termos mais científicos, o umbigo é a cicatriz abdominal, resultante do corte do cordão umbilical.
Em termos estéticos, haveremos de convir que não é muito agradável. Não estou sequer a falar daqueles que ficam saídos, como que ameaçando rebentar a qualquer altura e deixar sair as tripas.
Odorificamente, quem nunca meteu lá o dedo ao fim de um dia quente de verão e sentiu aquele misto de chulé com suor? Pouco agradável, não é?
A sua origem é, ela própria, detestável. Resulta de um corte. Um corte que nos separa das nossas progenitoras, que nos deixa sós no mundo.
Em suma, não é um buraco muito aprazível, ao contrário de alguns outros, principalmente quando existente no sexo feminino. Por exemplo, quem não almeja poder introduzir o dedo mindinho no buraco da orelha de uma mulher, depois de ter trincado o respectivo lóbulo?
Derivações à parte, o umbigo será, por todos os motivos que referi, uma das partes do nosso corpo que alguns teimam em fazer de conta que não existem. Daí que muitos não olhem para o seu umbigo, preferindo olhar para o dos outros.
Começa então o maior espectáculo do mundo – o segundo é o circo. Holofotes acesos, microfones ligados e aquela cara de satisfação de quem vai olhar e falar dos umbigos dos outros. Fácil. As palavras esvoaçam sem dificuldades. O público rejubila ao ver os umbigos dos destinatários expostos a nu. Entretanto, o umbigo do orador vai-se mantendo escondido, por debaixo de várias camadas de roupa, protegido.
Isto tudo atravessou-me a mente – a expressão inglesa é bem mais cheia de significado, mas enfim – quando ouvi o presidente da Federação Distrital de Viseu do Partido Socialista, José Junqueiro.
Na veste de porta-voz de um grupo de autarcas descontentes, em pleno congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses, resolveu o ínclito presidente distrital manifestar-se da forma que segue: «Os autarcas do PS não se revêem nesta direcção, pelo que entendemos que deve haver uma renovação, sobretudo um espírito de parceria no desenvolvimento».
Eis um homem sensato e atento aos problemas que assolam aquele organismo. De facto, não era nada mau que se livrassem do umbigo do Ruas. Não o conhecendo, ao umbigo do Dr. Ruas, aposto que deve ter o mesmo aspecto do bigode que teima em não cortar. Escondido por pêlos farfalhudos. Muito bem, Dr. José Junqueiro, livrem-se do umbigo bigodal. Estou consigo.
Agora, mal que lhe pergunte, quando é que nos vimos livres de V. Exa.? Quando é que V. Exa. se renova? Para quando a libertação do espírito de parceria no desenvolvimento, seja lá o que isso for? Quando é que V. Exa. segue os saltos do Coelho e coloca o seu lugar à disposição? Quando é aconselha os seus correligionários a fazerem o mesmo? Vá lá, siga o meu singelo conselho e olhe para o seu umbigo. Aproveite e veja o dos seus amigos. Quando o fizer e agir em conformidade dar-lhe-ei os parabéns. Dir-lhe-ei o seguinte: «uma jogada de ás. Nada mau para quem apostou sempre em duques».