DO MERCEDES AO BMW: EVOLUÇÃO ZERO
Quando começaram a surgir novos ricos em Portugal, um dos grupos que mais se destacou foi o dos empreiteiros. Movidos e motivados com uma política de betão liderada pelo vencedor das presidenciais enriqueceram de forma mais ou menos fácil, fruto do grande número de obras adjudicadas e do pouco controlo que existia sobre a sua execução.
Sem saberem muito bem o que fazer ao dinheiro, começaram a construir casas do estilo maison, quase todas com um R/C ocupado com lojas para guardar a ferramenta do trabalho e um primeiro andar dividido por um corredor que atravessava a casa de um lado ao outro, distribuindo mais ou menos à sorte para cada um dos lados a sala, os quartos, um wc e a cozinha.
A cozinha era a divisão mais importante da casa. A bem dizer era o centro nevrálgico da casa, onde se desenrolava toda a vida social. Dali só saíam para os quartos frios e de mobilados com camas horripilantes, de madeira envernizada, com pierrots espapaçados sobre os edredons acetinados de cor rosa.
Claro está, existia sempre uma televisão de pequenas dimensões pregada quase no tecto – estilo taberna – por forma a poderem ver todos os jogos do Benfica enquanto comiam uma febras afogadas em óleo Fula.
Feita a casa, o passo seguinte era compra de um Mercedes-Benz, modelo 190. Nunca percebi o que poderia levar uma condutor normal a comprar um carro com uma estrela à frente, com um motor sem potência, uma autêntica arrastadeira dos anos 80/90.
O certo é que eles os compravam e ostentavam orgulhosamente a estrela que guiavam e que os guiava. Era fantástico ver aquela gente atarracada com barrigas proeminentes a sair dos Mercedes.
Os tempos mudaram, só a vida na cozinha e as barrigas foram mantidas.
Os Mercedes deram lugar aos BMW, a estrela substituída pela hélice do avião sobreposta ao azul do céu. A potência dos motores aumentou um pouco, o preço também. O essencial do mau gosto continuou inalterado.
Porque não um Audi ou um Volkswagen. Mais potentes, mais baratos, igualmente cómodos...
Não havia nada a fazer. Era uma questão de status. Quem não o tinha por mérito, haveria de o ter à custa do dinheiro. Enfim, aquela mentalidade provinciana que defende que é o carro que determina a posição social de cada um.
No caso dos empreiteiros, até compreendo. Normalmente são gente que começou do zero e que, por isso, gostam de mostrar aos outros o dinheiro que possuem, comprando assim carros caros.
Já não compreendo aqueles outros que, à custa do dinheiro dos outros, não conseguiram evoluir e continuam pirosos nos carros, comprando BMW, ostentando gravatas com sarampo, devorando porcos no espeto com as mãos, comendo alarvemente com barretes enfiados na cabeça, bebendo vinho de garrafão...
Não entendo mesmo. Com 50.000,00 € (cinquenta mil euros) compra-se um Jaguar em segunda mão. Uma gravata Boss não é muito mais cara que uma sarapintada e, ainda que o seja, vale mais uma daquelas que duas destas. Um tornedó à Wellington custa tanto como três sandes de porco no espeto. Um copo de vale Meão custa tanto como um garrafão de Penalva.
Um pouco de bom gosto sff, já que o dinheiro é nosso, ao menos gastem-no com estilo.
Por falar em BMW, proponho-me como assessor de imagem do Tó Carlos. Só quero 2.500,00 euros por mês e uma placa na minha porta com o cargo desempenhado: Robin - assessor de imagem. Bonito!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!