AS DIFICULDADES DA BEATRIZ
A propósito do Mundial de Futebol, o nosso ex-Presidente da República, apareceu na Alemanha envergando um boné estilo George Bush, apregoando a tudo e a todos que estava contente por regressar à vida civil. Dizia, embevecido, que tinha demorado duas horas a sair do estádio e que até tinha comido um hamburger no Macdonald’s.
Ao ouvir estas palavras, dei comigo a lacrimejar. Tinha no ecrã do meu plasma um homem com «O» grande, como disse um qualquer jogador do esférico. Dei por bem empregues os dias da sua eleição, em que fiquei em casa a comer tiras de milho e a beber umas Heineken.
Desconheço o que terá passado por aquela carapinha ruiva para nos brindar com tamanhas confidências, mas não consigo vislumbrar nada de extraordinário, a não ser que o hamburger fosse de minhocas.
Não perderei, porém, mais um minuto sequer a falar deste senhor mimado e educado em colégios ingleses. Prefiro falar na nossa Beatriz local e antever o seu futuro, no dia (breve) em que regressar à vida civil.
Vejo-a a pegar no seu furgão de dimensões avantajadas e a vir tomar o seu café à vila, já reformado, evidente, ou pensavam que se ia estrear a trabalhar? Primeira dificuldade, como e onde estacionar a viatura, agora que o parque privado acabou. Dilema da consciência que, miraculosamente, passou a ter: «devia ter mesmo feito uma merda de um parque de estacionamento». Resolução do problema: «na próxima assembleia municipal sento-me ao lado do Salazar e exijo um estacionamento».
Segunda dificuldade, encontrar um depósito de lixo que aceite recepcionar as gravatas com sarampo. Após alguns kms percorridos, não muitos, porque agora o gasóleo sai do bolso, o furgão gasta mais do que o BMW e agora os euros saem-lhe do bolso. Resolução do problema: meter uma cunha à empresa avícola do Trouce para desfazer as gravatas e as mandar rio abaixo, directamente para a zona das poldras do Vouga.
Terceira dificuldade, fazer compras no Pingo Doce. Habituada a pagar tudo com prazos a perder de vista, a nossa Beatriz irá ter dificuldades em fazer com o cidadão comum e ter de pagar na hora. Resolução do problema: cobrar o favor do tacho arranjado ao mordomo e mandá-lo lá a ele.
Quarta dificuldade: falar sem mentir. Deixada a política, a Beatriz vê ser-lhe retirado o privilégio de poder dizer tudo o que lhe atravessasse a mente, por mais falso e descabido que fosse. Resolução do problema: faz um voto de silêncio e recolhe-se para uma cela do Convento de S. Cristóvão, não mais sendo visto.
Ai Betariz, Beatriz, se soubesses como ia ser duro o regresso não tinhas feito tantos disparates e talvez ainda hoje lá estivesses, não era?