QUEM NÃO ESTÁ BEM, MUDA-SE…O pluralismo, o direito a opinião contrária e outras tantas frases feitas sobre o mesmo assunto estão há muito implantadas em quase todos os partidos políticos.
Parece-me, contudo, que o direito à opinião contrária terá de terminar onde colidir com as imposições do partido em que somos eleitos. Não quero com isto defender a IVD (Interrupção Voluntária da Democracia), pois para isso temos a presidente do (ainda) maior partido da oposição.
O que me parece é que, quem quer colher benefícios por ser eleito numa lista de um determinado partido, tem de aceitar a disciplina de voto que lhe é imposta, com excepção para as matérias de consciência. Se não estiver para aí virado, seja por questões de interesses da mais variada espécie, seja por questões de mera teimosia, só tem uma de duas hipóteses: não integrar nenhuma lista do partido em causa, mantendo a militância, assim criticando com maior amplitude o que houver a criticar, sujeitando-se, em casos extremos, a um processo disciplinar; bater com a porta e, nas eleições seguintes, integrar uma lista de um partido com maior afinidade às ideias por si defendidas ou candidatar-se como independente, renunciando à militância.
Vem isto a propósito das (quase todas) intervenções do deputado eleito pelo Partido Socialista, Manuel Alegre. Vejamos alguns exemplos aleatórios:
- Manuel Alegre indignado e em desacordo com participação do Estado no plano de salvamento do BPP;
- Manuel Alegre admite não estar presente no congresso do PS;
- O Movimento Intervenção e Cidadania, fundado a partir da candidatura presidencial de Manuel Alegre, defende que as reformas da educação se caracterizam por um espírito autoritário e excessivo controlo de gestão;
- Manuel Alegre, referindo-se à política de avaliação de professores defendida pela Ministra da Educação, diz estar farto da lógica do quero, posso e mando;
- Na revista Ops, Manuel Alegre acusa o Ministério da Educação de governar para as estatísticas, sustentando que não se pode reformar a educação tapando os ouvidos aos protestos e às críticas;
- A propósito da aprovação do orçamento de Estado, Manuel Alegre refere que um país não pode estar de mal com as suas Forças Armadas.
- Manuel Alegre vota contra o Código do trabalho;
- Manuel Alegre abstém-se na votação da proposta do PS relativa à lei quadro de nacionalizações e ao pagamento de indemnizações a responsáveis condenados por práticas lesivas da empresa;
- Manuel Alegre vota ao lado do Bloco de Esquerda e dos Verdes a favor dos casamentos homossexuais, quebrando a disciplina de voto imposta pelo PS.
Bolas, isto não é ter opinião contrária, é ser-se do contra. Se assim é, rua. Porque será que ninguém tem coragem para retirar a confiança política a este senhor? Deixem-no ir a votos sozinho e logo se vê o peso que tem. E não me venham com o argumento dos resultados das presidenciais, porque tivesse o Partido Socialista apresentado um candidato vivo e aí se veria o peso deste senhor.
Mutatis mutandi, também nós temos alguns «Alegres» plantados no nosso concelho. Julgando-se donos e senhores de um elevado peso político (sem nenhuma espécie de correspondência com a realidade, porque nunca foram a votos sozinhos), arrogam-se a fazer o que lhes dá na real gana, contra tudo e contra todos e, sobretudo, contra os que contribuíram para o seu sustento durante vários anos. A maior parte, sem a política, nada seriam.
Sejamos honestos, tanto há Alegres no PS como no PSD local. Denominador comum nos dois partidos é, no entanto, a falta de coragem de ambas as estruturas locais em porem esses «Alegres» no lugar deles: na rua.
Vão a votos sozinhos, num movimento de independentes e mostrem o que vale. Numa coisa sejamos honestos, o Dr. Bandeira Pinho fê-lo e conseguiu o resultado que pretendia: a derrota do PS. Porque não o farão esses «Alegretes» que andam por aí? Mostrem o vosso peso na instância (não estância) própria, nos votos.
Fico a aguardar.