Chegou esbaforida. Depois de algumas dificuldades em encontrar o caminho para o concelho de onde é originária, volvidos que foram alguns anos de ausência, passados em soturnas salas de aulas, foi-lhe posta a possibilidade de cumprir o seu sonho de menina: fazer parte de uma lista autárquica.
Coisa importante, uma espécie de tradição familiar, pois que alguns membros próximos do clã haviam alcançado anos antes altos voos na política local. Munida de um canudo debaixo do braço, qual «doutora» esclarecida e iluminada, apressou-se a esclarecer que era ambiciosa e competente. Aliás, tal como a pessoa que a tinha convidado.
Inebriada consigo mesmo, sob a luz dos holofotes da Cabria, do Fujaco e de muitos outros locais recônditos por onde passeou as suas frentes, julgava que era chegar, ver e vencer. Era «doutora» de um qualquer instituto de província, pertencente a uma família conhecida, pelo que pensava que ia ser como «limpar o cú a um bebé». Correu mal.
Nas primeiras aparições públicas, inclusive na própria freguesia, (vulgo porta a porta), ninguém a conhecia (aliás, nem quem a tinha convidado era conhecido). Nas primeiras pérolas que escreveu, ficou-se pela pequena instância e dela não mais saiu. Nos primeiros discursos, uma espécie de alucinação psicadélica, tal o desfasamento de linguagem utilizado.
Ainda assim foi insistindo, afirmando a sua dedicação à causa pública, como se fosse sacrificando por todos aqueles que (não) votaram nela. Uma espécie de frete em troca de uma compensação moral (e de umas quantas senhas de presença, constando que não as ofereceu ao partido, como anteriormente tinha prometido).
O tempo foi passando e ninguém a levantou em ombros, porventura com medo que não mais aterrasse, tamanha é a falta de «peso político». Para compensar tal falta, apressou-se a integrar as listas (únicas) do barão distrital, engolindo previamente uns quantos sapos, com a ajuda de um Pepsamar.
Não chegou. Apercebendo-se da clareira em seu redor, desvanecendo-se as suas ilusões da sua pseudo competência universitária, começou a recuar. A estratega das queixas e denúncias, defensora da moral e elevação, viu-se sozinha, sem apoios de peso no seio do partido, que não fossem aqueles que pairam à coca de um qualquer lugarzito que lhes dê o destaque que os demais lhes negam por falta das mais básicas virtudes.
Recuou ainda mais, adiando o inevitável, fugindo como o diabo foge da cruz de toda a espécie de sufrágio partidário que a apoiasse, certa do seu destino nas urnas. Escondeu-se por detrás do seu pequeno nobre, a quem foi acusando da desgraça do balanço de quase um mandato. Partilhou dissabores com familiares, vitimizando-se e culpando terceiros pelo que estava à vista.
Enfim, muita parra e pouca uva. Era assim a D. Instância. Regressou por onde veio, triste e acabrunhada. Ganharam os que se viram livres de tamanha competência, os que precisavam de actos concretos e não de concretizações teóricas desajustadas.