O VERÃO E AS FESTAS DA VILA
Há muito que aprecio a diversidade das associações de ideias que cada um de nós faz em relação à mesma coisa.
Em relação ao Verão, dizia-me um amigo meu alfacinha que a primeira coisa que lhe vem à cabeça é a Costa (praia da). Gente a perder de vista, o sovaco do vizinho dentro do nosso nariz, matilhas de criancinhas histéricas de baldes na mão a pingarem água e areia molhada para cima dos muito exemplares da Bola e 24 Horas, avôzinhos barrigudos a construir castelos de areia, Tuperwares a transbordar de arroz de ervilhas, Fiat Punto GTI V6 Kompressor de suspensão rebaixada estacionados em qualquer milímetro de espaço... Enfim, uma imagem capaz de afastar qualquer vontade em querer pisar aquela areia antes do pino do Inverno, única altura em que não se por lá vêem estes espécimes do Barreiro, Baixa da Banheira e arredores.
Quis fazer o mesmo raciocínio e, quando me vi a imaginar o Verão em SPS, o que me veio à mente foram as festas da vila. «Festas da vila», só o nome deixa-me cheio de arrepios na espinha. Os calafrios que sinto ao ouvir pronunciar estas palavras instalam-se e duram, duram.
Aquelas cercas feitas de tábuas desalinhadas e terminadas em bico. As luzes fiéricas, as colunas de ruído que ladeiam a Rua Serpa Pinto, todo o dia com elevados decibéis, incapazes de emitir um único som. Uma musiquinha de bradar aos céus, um mix de Ágata com Kenny G. As barracas ridículas que instalam no meio do jardim a vender pretenso artesanato e rifas não se sabe bem para quê. O Tó Carlos ladeado do Chaves e de S. João Baptista, seguido pelo cambaleante mijado. O Tropical cheio dos habituais e outros que tais. Um cenário de fugir...
Pior mesmo, só as festas da vila em anos de eleições. Nessas alturas, os ocupantes do senado, ditos políticos, querem brilhar. Pensam que se nos encherem a vista com aquilo que denominam de «bom programa» arrebatam mais uns votos. De preferência um que custe muito dinheiro. Bom e barato já não existe, dizem orgulhosamente de café em café, com boletins de votos nos olhos.
Este ano, como há eleições, não quiseram fugir à regra e... pimba. Marco Paulo, marchas não sei das quantas, Tocata, Sérgio dos «Ídolos», Fingertips e por aí fora. Não sei quanto leva o Sérgio para cantar uma horas, nem os Fingertips para miar durante outro tanto, mas o Marco Paulo tem uma colecção de Porsches... Não foi certamente a vender os caracóis da carapinha de outrora que os conseguiu comprar.
Talvez tenham esperanças de pagar em prestações a maquia cobrada ou, quiçá, não pagar. Sim, por vezes os artistas não cobram nada. Vi isso na Terra do Nunca. Foi o Peter Pan que mo disse na presença da Fada Sininho.
O que eu sei mesmo é que as Festas da vila não se pagam sozinhas. O dinheiro cobrado nas entradas não chega nem para o Marco Paulo arrotar uns acordes do «Tenho Dois Amores». Pelo menos paguem aos artistas locais.
E depois há a questão da segurança. Será que a estrutura da viga do Tó vai aguentar. Já estou mesmo a ver, naquela parte do «Sempre que brilha o Sooollllllll», as verguinhas da viga a desfiarem e a ponte a desabar sobre os cagalhões flutuantes. Porra, não devia ter escrito isto, ainda aproveitam a ideia e transformam o rio num aterro sanitário...
Bem, deixo-vos com uma sugestão de associação de ideias. Prioridades. Pensem e escrevam todas as que vos surjam a partir de «prioridades». Vão ver que dão melhores políticos que o Tó Carlos e seus apóstolos.
No que me toca, prefiro pisgar-me uns dias para a Costa. Tremoços e finos, aí vou eu! Deixem lá uma nesga para o meu Renault 5 TDI Rip Curl.